sexta-feira, 31 de julho de 2009

Doces lembranças

Hoje eu acordei sem precisar ser "chamada" pelo despertador... Hoje em dia, esse é um acontecimento que merece registro! ;-)
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Abri meus olhos e vi um céu meio nublado, uma "barra" escura pairava sobre os edifícios (a paisagem que vejo da janela de neu quarto é composta, basicamente, de prédios altos...) e eu lamentei pelo dia chuvoso que enfrentaria... Voltei a dormir por mais meia hora e o céu já estava com um aspecto totalmente diferente. Às seis e meia da manhã o sol já brilhava e fazia minha paisagem mais bonita! Os passarinhos já voavam em frente à janela, usada para seus eventuais pousos, como de costume... Ao longe, vi um avião sobrevoando a cidade... aparecendo e desaparecendo de meu campo visual povoado pelos prédios da vizinhança... Tive a certeza que teria um bom dia!
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Fiquei um bom tempo deitada olhando o céu... Aprendi a passar o tempo olhando o céu com mamãe... Ela sempre identificava alguma forma conhecida em cada nuvem... Em geral, eram formas de animais como carneirinhos, elefantes, girafas... Eu não achava o céu bonito, se não tivesse cheio de bichinhos de nuvem de algodão-doce pendurados nele!
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É... para mim as nuvens eram feitas de algodão-doce... daquela delícia que eu tanto gostava mas que só raramente me era permitido degustar (ou devorar!) ;-)
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Algodão-doce era quitute da Festa das Neves, ou de quando íamos passear na Bica ou na Lagoa... Era um doce parcialmente liberado por mamãe; e eu agradecia, pois os pirulitos de mel, que eram vendidos na rua por meninos, espetados nos furos de uns tabuleiros de madeira, esses eram terminantemente proibidas (era essa mesma a expressão que eu ouvia para as proibições mais sérias, em especial, para as que vinham de papai...). Mamãe achava que não havia higiene na fabricação nem na comercialização daqueles docinhos que eu tanto cobiçava...
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Em compensação, ela fazia deliciosas balas de puxa-puxa que a gente devorava rapidinho...
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Outros doces que me tentavam também eram proibidos sob a mesma alegação de falta de higiene...
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Entre as delícias açucaradas que me eram vetadas estavam uns doces lindos e deliciosos que eram vendidos na feira em tabuleiros (ou nas ruas, quando o vendedor, que anunciava o produto tocando uma espécie de apito de madeira parecido com um "pio" de caçar passarinhos, portava um suporte dobrável ao ombro e, quando chamado, abria sobre ele seu tabuleiro recheado...) . O "doceiro" usava uma espátula (que realmente não devia ser muito limpinha...) para cortar "talhadas" que eram servidas em um pedacinho de "papel de embrulho"... aquele era o nosso "doce americano" (que depois encontrei em em Recife, associado a outra nacionalidade... acho que "doce japonês", e mais tarde aqui em Salvador, com o sugestivo nome de "quebra-queixo"...)
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Também era na feira (ou nas "vendas" ou "mercearias" do Mercado Central) que se vendiam umas balas em formato de chupeta... eu não gostava muito delas, mas o tempero da proibição
as deixava bem apetitosas!
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É... parece que minha infância foi muito doce... é esse o sabor que me vem à memória, quando me vejo novamente naqueles vestidinhos de manguinhas curtas bufantes, sainhas franzidas na cintura e amarradas por laçarotes nas costas... (os franzidos das saias frequentemente eram vítimas de puxões por parte "dos meninos" e se soltavam desabando... eu "odiava" aqueles vestidos que me faziam frágil frente aos meus irmãos!)
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Doces (ou agridoces) lembranças...
cc
Na foto, estamos na Bica... Bartolomeu, Fernando, Felipe e eu (de dedinho na boca, mas ainda segurando um "buquê" de rolete de cana na outra mão...). Meu vestido é o mesmo que foi borrifado pela lança-perfume de Sóstenes... Na cintura, ele tinha um entrançado de fitas de cetim, que eram amarradas em um laço nas costas (era até covardia, além de ser mais fraca do que "os meninos" eu ainda usava os laços e saias franzidas que me tornavam presa fácil, quando brigávamos...).

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Do ROSAE ao Carnaval... uma viagem!!

Foram só quatro dias... mas foram vividos de modo tão intenso que nos custa acreditar que não se tenha passado um mês inteiro, no período entre 26 e 29/08/09...
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Hoje pela manhã eu tive outro evento na Universidade. A caminho de Ondina, ao passar perto do Pestana, tive uma forte sensação de que estava passando pela minha casa sem adentrar sua porta... ;-)
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A experiência de trabalhar, ainda que apenas como coadjuvante, na organização de um evento do porte do I Congresso Internacional de Linguística Histórica me foi realmente muito gratificante, apesar do estresse, do cansaço e de muito pouco ter podido usufruir do ROSAE... (ao lado, o painel que apresentei no Congresso, na segunda-feira...)
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Durante mais de uma semana, estive muito pouco em casa e a bagunça tomou conta não só de todos os cômodos do meu apartamento, mas também de minha desorganizada memória...
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A rearrumação da casa ficará a cargo de Sirlene, que virá amanhã cedo... mas meus bits de me memória precisam ser bem escovados e recolocados em seus devidos lugares... Hoje à noite, quando colocar a cabeça no travesseiro, tentarei localizar meu saquinho de filó, cheio de confetes reciclados (uma vez que já foram espalhados e recuperados algumas vezes)...
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Provavelmente, em meio aos confetes eu vou encontrar estrelinhas e safonas coloridas, feitas de serpentinas apanhadas do chão, cuidadosamente desamassadas por mim e caprichosamente entrançadas pelas hábeis mãos de minha mãe... Esse legado, por ser um tanto carnavalesco, poderá recender levemente a lança-perfume (conforme registrado em minha memória olfativa...)
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Aquele perfume gelado me foi apresentado por meu irmão Sóstenes. Ele borrifou no peitilho (minhas roupas infantis sempre tinham peitilho!) de meu vestidinho de cambraia rosa um líquido estranho (não molhava, apenas refrescava e perfumava!) que cheirava a alegria e que ficou para sempre associado àquelas marchinhas carnavalescas que mamãe gostava de entoar. O líquido mágico veio de um tubo de metal dourado (na verdade, a cor do tubo, como está na minha memória, era "ouro velho"). Na extremidade superior daquele tubo, havia um gatilho que, pressionado, liberava perfume de carnaval!
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Para mim, durante muito tempo, carnaval era um composto de algumas lembranças infantis... além dos confetes e serpentinas perfumados, das marchinhas e do frescor da lança-perfume, havia as máscaras de papelão colorido e as bananinhas e laranjinhas de plástico (trol-lanças!) que enchíamos d'água para molharmos uns aos outros...
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Uma outra lembrança carnavalesca, mas essa fora da minha realidade, é a dos carros sem capota e com toda a lataria recoberta por confetes... alguns ainda com enormes máscaras coladas sobre o "capuz" (engraçado como o "capuz", através do francês capeau virou o atual "capô"... e ainda há quem queira impedir que palavras estrangeiras sejam incorperadas ao nosso léxico...)
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Aqueles carros passavam em frente à nossa casa, na Pedro II, e iam "fazer o corso" na Lagoa... Eu daria tudo para estar num daqueles carros!
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Do carnaval de 1958, quando eu tinha apenas 6 anos, tenho uma pequena e tênue lembranças de estar em cima da camioneta de um primo de meus pais (Barto), que naquele varão era nosso vizinho, de máscara no rosto e trol-lança em punho, pronta para ir ao corso, mas acredito que minha permanência ali tenha sido apenas enquanto os grandes se preparavam para a festa...
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Mais uma lembrança de carnaval: as revistas semanais que papai comprava para a família eram ainda mais disputadas pelos meus irmãos e censuradas para os menores, por apresentarem fotos de bailes famosos do Rio, nos quais as mulheres estavam "de barriga de fora"... (mais tarde, eu acabava tendo acesso a elas!)
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Bem, essas lembranças misturadas são resultado da confusão mental que se instalou em mim. Mas, hei de recuperar uma ponta desse novelo emaranhado, desenrolá-lo cuidadosamente e deixá-lo pronto para ser tecido!

sábado, 25 de julho de 2009

Dia cheio...




... mas o cansaço é gratificante...




O Congresso está quase pronto (meu painel ficou bem bonito e vou apresentá-lo na segunda-feira!) e espero que seja um sucesso.




Gostei muito da experiência... meu rito de passagem para a vida acadêmica... ;-)

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Ritos de passagem

A viagem de Erick está funcionando como um rito de passagem na vida dele, pelo menos é assim que estou encarando... uma passagem da condição de filho para a de adulto (quase) independente. Pela primeira vez ele está testando suas asas em um voo (mais ou menos) longo e sem a assessoria materna... (em compensação, ele vai poder me assessorar em minha próxima viagem!) ;-)
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Isso me remete aos meus próprios ritos...
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"Ficar no canto" foi um rito que devo ter vivido, mas do qual não lembro... É... não lembro quando perdi o direito ao quarto de papai e mamãe... Nem lembro de ter ocupado o "quarto dos pequenos", que tinha uma porta de comunicação com o quarto paterno e que era destinado aos menorezinhos. Talvez por ser menina eu tenha ido direto para o quarto de Maria Sônia (que não deve ter gostado nem um pouco da companhia daquela pirralhinha que "mijava na cama"...
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Naquele quarto, eu tinha uma cama quase igual a de minha irmã, só que a minha tinha uma grade que me protegia de quedas... (será que eu caía da cama ainda aos 4 anos?) e uma gaveta do guarda-roupas era reservada para mim. Não lembro se meus vestidinhos ficavam pendurados (em "ombreiras" de plástico cor-de-rosa ou azul enfeitadas com patinhos...) junto aos dela... Creio que não ficavam... nosso convívio naquele quarto não era exatamente uma divisão harmoniosa de espaço... (minha necessidade de ter um espaço meu deve ter nascido naquele quarto que tinha uma porta para a varanda de piso de cerâmica vermelha sextavada!)
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O primeiro rito de passagem que guardo na memória foi a sonhada ida para a escola, quando descobri que eu não era, não precisava ser, uma só!
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Depois, sempre ligados a escola, vieram a ida para um colégio de freiras: o Instituto Maria Auxiliadora, em Recife (antes dele, eu havia passado pelas Lourdinas de Recife, mas esse era bem pequeno e não muito diferente das "escolas particulares" que eu frequentara antes). O Maria Auxiliadora me marcou muito. Desde a entrada... eu fui deixada sozinha no portão e segui meio assustada em direção a uma ala onde ficavam as salas de aula (ali eu iria cursar, e cursei, a quinta série primária e prestar o exame de Admissão, esse, um rito oficial de passagem para a vida adolescente), caminhando entre os canteiros de flores que ficavam no pátio do colégio, ladeando uma estátua, se não me engano, de d. Bosco (o Maria Auxiliadora é um colégio salesiano...).
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O acesso ao corredor de salas de aula era feito por dois degraus. Subi aqueles degraus vestida em minha farda (totalmente inadequada ao clima do verão nordestino!) composta de saia de "tropical" azul marinho pregueada, blusa branca de cambraia (de mangas compridas! E com a frente adornada lateralmente por duas faixas de 10 cm de "nervuras"), cinto largo (de 10 cm) forrado com o tecido da saia, sapatos pretos e meias soquete brancas. Sob a blusa, eu tinha que usar um "corpinho" ou "meia combinação" (algo bem parecido ou igual às camisetes, que se usam hoje). Fui recebida por uma freira com "cara de poucos amigos" que me mandou ajoelhar (nunca gostei que me mandassem ajoelhar!) para verificar se a borda de minha saia arrastava no chão... essa era a medida de comprimento que deveria ter a saia da farda daquela assustada menina de 10 anos... A minha ficou acima do chão e mamãe teve que "descer o abanhado"...
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Naquele colégio, apesar de eu não ter guardado dele as mais doces recordações, eu pude começar a exercer uma coisa que sempre me fascinou: o anonimato! Como eram muitas alunas, eu tinha a sensação de não estar sendo observada o tempo todo (no que eu estava redondamente enganada, pois a disciplina ali era muito rígida e nada escapava aos olhares agudos das irmãs, que eram muito mais brabas do que minha irmã, quando eu mexia em alguma coisa dela...).
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Foi no Maria Auxiliadora que conquistei minhas primeiras amizades independentes da família. Meus pais não conheciam os pais de Fabíola, Fernanda, Heloísa Helena... Pela primeira vez, eu tinha algo que parecia ser só meu!
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Outra coisa que havia naquele colégio era um internato (aliás, lá também havia alunas que eram "semi-internas"... iam para lá pela manhã fazer "sei-lá-o-quê", almoçavam no colégio, à tarde tinham aula conosco e iam para casa à tardinha). Um dia eu fui visitar o dormitório delas... Era um quarto enorme, cheio de camas bem feitas (não sei se pelas próprias alunas ou pelas freiras) e eu agradeci aos céus ter conseguido me livrar da ameaça sob a qual eu vivera entre os 7 e os 10 anos, quando mamãe repetia todos os dias que me colocaria em um internato, pois eu era muito "arengueira" e só queria saber "de brincadeiras de meninos" (afinal, eu não queria brincar sozinha!).
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Não lembro quando ela parou de repetir isso, mas lembro que todo ano, no período em que eu sabia que as aulas estavam para começar, eu procurava me comportar o mais corretamente possível... me apavorava a ideia de ser mandada para longe de casa para transformar minhas mãos em mãos-de-fada (mesmo achando que fadas eram seres lindos, eu preferia não trocar minhas mãozinhas!)...
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O último rito de passagem que citarei hoje é o do nascimento de minha primeira sobrinha (que fez aniversário ontem!). Virei tia aos 11anos. Minha sobrinha, Socorro, era um bebêzinho muito fofinho e rechonchudo, mas eu não tinha muito acesso a ela, apesar dela morar em nossa casa. Sua mãe era muito ciumenta e talvez tivesse medo que eu a derrubasse no chão... Não lembro de ter colocado Socorro no colo... nem de ter cantado "O Calhambeque" ou "Quero que vá tudo pro Inferno" para ela...
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Aliás, quando Sóstenes levou Cleonice, grávida, lá para casa eu fui "despejada" do quarto que ocupava; eu já conquistara o direito a ter meu quarto, mas o perdia a cada hóspede que chegava (como vovó Xixica e tia Lilia, que iam nos visitar todos os anos) e acho que aqui está mais um fato que contribuiu para a minha necessidade de ter "meu canto".
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Sim, mas a chegada de Socorro representou uma oportunidade para eu me livrar de todos os meus brinquedos. Doei todos para ela (não eram muitos e talvez ela nem tenha chegado a brincar com eles, mas eu fiz a minha parte!) ;-) e comecei a lutar pelo direito a usar sapatos sem meias soquete (eu morria de vergonha de minhas colegas de colégio, pois mamãe me obrigava a usá-las e aquilo representava ser "pirralha boba". Muitas vezes eu preferia não sair, para não ter que me vestir de criança, quando já não me sentia mais tão menina... apesar de não ter noção das razões que me faziam sentir isso!)
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Essa foi uma época em que minhas feições mudaram muito. Eu fiquei horrorosa, como mostro aqui, onde apareço com a cara meio amarrada (aqui em Salvador diriam que na foto eu estou "enfezada"...), com uma "fita grega" nos cabelos e usando uma blusa de linho azul enfeitada com uma espécie de galão listrado em vermelho e branco (acreditem!) feito de crochet (por Maria Sônia? Talvez... ela sabia fazer até "frivolité" e "renda irlndesa"!).
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Bem, se alguém encontrar por aí essa menina, que faça como eu faço, quando a encontro em minha memória, dê-lhe muito carinho e atenção, pois ela realmente sente muita falta disso!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sem lembranças


Muito trabalho, muito cansaço... pouco tempo para o que não seja ROSAE!!
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Ainda bem que Erick já consegue usar o Skype no iPod, hoje ele segue para Munique, espero que durma bastante na viagem de trem (são seis horas!).
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Boa viagem, meu filho!
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Te amo muito!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Viajando...

Hoje eu recebi um email de Erick... Acho que foi a primeira vez que ele mandou uma mensagem para mim... quer dizer, uma mensagem com notícias... Agora ele está em Praga e, apesar de já ter comprado o tal iPod que permite o acesso à internet, não conseguiu ainda usar o Skype.
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Eu fico pensando em como a gente cria necessidades a partir da tecnologia... Lá em casa, quando saíamos, mamãe aguardava pacientemente por uma cartinha (dos que estavam mais longe, como era o caso de Marcelo, quando mudou para São Paulo e de Carlos quando foi para Volta Redonda...), que algumas vezes demorava muito a chegar e outras não chegava de modo algum...
E também não tínhamos a mesma facilidade de uso de telefone... Quem estava longe, estava realmente bem mais longe do que podemos suportar hoje em dia!
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E assim, eu vou ficando com essa sensação de que o mundo está encolhendo... Não só está muito mais fácil a gente vencer grandes distâncias, como também está mais difícil a gente conseguir se afastar totalmente de um lugar...
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Quando, em 1980, eu fui á Europa de férias, de lá mandei à minha mãe alguns cartões postais. Na volta, ao invés de vir direto para casa, eu fui a João Pessoa "tomar a bênção" a mamãe (lá em casa, quando éramos pequenos, pedíamos bênção a papai e a mamãe ao acordar, ao sair de casa, ao deitar... "bença mãe/bença pai!" era saudação costumeira de todos nós) e pude eu mesma receber dois daqueles cartões que demoraram mais do que eu em seu percurso... ;-)
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Aliás, mamãe gostava muito de ver os filhos viajarem, já que ela mesma não o fazia...
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Uma coisa que eu devia ter feito, era convencido mamãe a viajar comigo... ela tinha muita vontade de conhecer lugares novos, mas dizia que para ela só "teria graça" se papai também fosse... e ele não iria... era muito acomodado em seu lugar e não pensava em viajar se não fosse para visitar algum filho... quando já morávamos fora de casa...
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Essa acomodação de meu pai é mais um aspecto da personalidade dele que me intriga... Alguém me contou que quando ele era jovem estudava italiano (deve ser essa a razão daquele exemplar de A Divina Comédia na sua estante...) e queria fazer uma viagem à Itália após sua formatura... bem, parece que ele resolveu trocar a viagem pelo casamento...
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Como ele contava que, para obter o consentimento (e, certamente, o financiamento) paterno para cursar uma faculdade, que obrigatoriamente teria de ser de Direito (quanto a isso, eu desconfio que a opção dele seria outra... talvez a Engenharia, como deixou de herança para muitos de nós, talvez a Medicina, que gostava de "praticar" conosco...), teve que passar um "estágio" na fazenda de vovô, quem sabe também não lhe foi imposta alguma condição para que casasse com aquela prima (também lembro de ter ouvido que mamãe não seria a prima escolhida por vovó Xixica para ser sua nora...)
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Voltando para a vontade que mamãe demonstrava ter de conhecer lugares distantes, em especial, ela queria muito conhecer Portugal... Na minha primeira noite em Lisboa eu lhe escrevi um detalhado relato de minhas primeiras impressões sobre aquela cidade que ela tanto sonhava visitar... Ela dizia que quando morresse (mamãe sempre fazia planos estranhos para depois da morte!) viajaria pelo mundo sentada na asa de um avião...
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Como era católica fervorosa, e como se sentia próxima de Nossa Senhora de Fátima, já que havia nascido na véspera do dia em que a santa apareceu pela última vez às crianças pastores e Fátima, ela queria, principalmente conhecer a gruta onde teria acontecido a aparição... Acho que ela não gostou muito do fato de eu não ter ido ao local... se bem que fui ao santuário de Lourdes e até lhe trouxe "água benta" de lá!
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Mamãe era mesmo muito religiosa, lembro que, quando morávamos na Pedro II, ela ia à Missa com todos os pequenos (inclusive eu), na igreja das Mercês. Eu gostava, porque depois a gente dava um passeio na Lagoa e ela nos comprava rolete de cana. Mas eu confesso que não entendia nada do que se passava na igreja... só sabia que em certos momentos em que tínhamos de ajoelhar (disso eu não gostava... sempre havia areia no lugar onde eu teria que me ajoelhar e aquilo doía muito... machucava meus joelhos e "nascia cabeça de prego"...
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Eu queria ajoelhar uma perna só, como os meninos, mas mamãe me obrigava a colocar os dois joelhos naquela madeira cheia de areia...), em outros era para ficarmos em pé... só podíamos sentar às vezes... E ainda tinha hora em que não podia olhar o que o padre estava fazendo... (mas eu sempre olhava e não entendia a proibição...)
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Naquela época, as mulheres assistiam à Missa com as cabeças cobertas por "mantilhas" de renda... eu achava bonitas as mantilhas de mamãe e de Maria Sônia. Mas a minha não era de renda... era um véu fininho (acho que era uma espécie de tule) orlada por uma rendinha sem graça... Eu não gostava nada, nada de ser menina... esperava ser mulher um dia!
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Enquanto eu sonhava em ser mulher, para usar mantinha de renda, saia godê e vestido de bolero; mamãe sonhava que eu seria freira... e Felipe seria padre! parece que antigamente quem tinha muito filho tinha que doar uns para a igreja...
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Bem... ainda na adolescência, aos 15 anos, eu resolvi que não frequentaria mais as missas (ficaria em casa com papai, que nunca ia, mas mandava que a gente fosse com mamãe...), foi na época em que também cansei do colégio de freiras (principais responsáveis pelo meu distanciamento daqueles rituais...) e, aos poucos, fui tomando em minhas próprias mãos (talvez inábeis, mas minhas!) as rédeas do meu destino...
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E aqui estou eu...
pronta para ir à Missa...
vestido daqueles espinhentos,
a caprichosa "flor"
que mamãe fazia com meus cabelos cacheados
e os laçarotes combinando com o vestido...
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Será que alguém
podia estar feliz
com esses laçarotes na cabeça?? ;-)

terça-feira, 21 de julho de 2009

Estresse

Às vésperas da abertura do ROSAE, estamos vivendo uma situação de grande estresse entre os que estão mais diretamente envolvidos com o evento (aliás, dentre em breve eu já não terei tempo para escrever aqui, o que, com certeza me fará sentir um estressante vazio). Entre os membros da Comissão Organizadora, pelo menos dos que estavam "de plantão" hoje no Instituto, eu sou a mais velha (embora, é claro, minha posição na Comissão seja bastante confortável. Estou fazendo o que gosto: contribuindo para que as coisas corram bem, mas como assessora... No caso, tenho assessorado duas pessoas que admiro muito, seja como profissionais, seja como amigos: Silvana e Américo), mas com certeza não fui eu que mais pronunciei hoje a palavra estresse... Vi muitos dos meus jovens colegas (em geral, meninos e meninas na faixa dos vinte anos, estudantes que estão trabalhando como monitores do Congresso) reclamando: "já não aguento o estresse..."
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E eles estão cobertos de razão... são vítimas do estresse desde o ventre materno... um estresse que eu não conhecia, na idade deles.
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Quando bem pequena, eu via meu pai sair para o Tribunal (seu trabalho era lá!) a pé, de terno branco e gravata cujo nó era dado diariamente, na frente de um espelho que ficava sobre a pia da copa... Eu gostava de ver papai dando aquele nó! Era algo tão mágico quanto um truque que ele fazia com um pedaço de cordão nas mãos (eu nunca aprendi, nem a dar o nó, nem a fazer truques com barbante...).
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Papai voltava para casa à tardinha, também a pé e eu não lembro de vê-lo trabalhando á noite, em casa... Lembro, sim, que havia uma estante enorme cheia de livros e que a maioria deles parecia tinha exatamente a mesma capa (para mim, eram iguais!)... e, apesar de não parecerem revistas, como Seleções ou O Cruzeiro (um dia abri uma... não tinha sequer uma figura!), eram chamadas Revistas Forenses... lembro do dia em que um caminhão do Sebo Brandão parou lá em casa e levou todas aquelas "revistas" grossonas e de capa azul claro...
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Bem, se aquelas revistas estavam lá em casa, era lá mesmo que elas eram lidas por papai, mas essa não foi a lembrança que me ficou das leituras dele...
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Na minha memória, papai aparece lendo o jornal (nas lembranças mais remotas, ele lê A União, que traz junto o Diário Oficial... eu sempre quis saber que jornalzinho pequeno era aquele, que parecia muito sem graça, pois não apresentava foto alguma...) ou os dicionários dele... Apesar de saber que ele gostava de literatura (ouvi falar até que ele tinha uma Divina Comédia em italiano...) eu não lembro de tê-lo visto lendo nada parecido... Também não o via ler as revistas que comprava para a família toda... Se bem que, já crescida eu o via ler a Veja...
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Voltando á rotina de trabalho de meu pai, como ficou gravada em minha memória (uma memória bastante infantil, pois ele pediu sua aposentadoria muito precocemente, para poder se dedicar ao tratamento ao qual Fernando teve que se submeter e que nos levou a morar em Recife no período entre 1961 e 1962)... Ele vinha, claro que também caminhado, almoçar em casa e retornava para o Tribunal à tarde; não sei como era o horário de trabalho dele, mas, provavelmente, como juiz (e depois como desembargador) não estava sujeito a registro de frequência... (será que naquela época alguém "batia ponto"? Lembro de ter ouvido comentários sobre livro de ponto de repartições públicas, mas não lembro quem comentou... Talvez tenha sido Maria Sônia, que também foi funcionária pública...)
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De qualquer modo, como morávamos muito próximo ao Tribunal, papai fazia todas as refeições (cujos horários eram fixos e respeitados) conosco... Fazia as refeições e ajudava mamãe no preparo dos pratos dos menores (eu me incluo entre esses menores!), cortanto a carne...
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É... a vida era bem mais tranquila na pacata João Pessoa dos anos 50 do que na Salvador de hoje... Meu pai também se encarregava de ir á feira (acho que ele ia por prazer, afinal, todo sertanejo gosta de uma feira livre!) abastecer nossa dispensa. Para acompanhá-lo nessa empreitada semanal, ele convocava meus irmãos mais velhos, que ajudavam no transporte das mercadorias... às vezes, inclusive, usando um carrinho de mão fabricado por Carlos (acho que ele fez a carroça de feira a partir das instruções que estavamem um livro que era um verdadeiro sucesso lá em casa: Com o Serrote e o Martelo... Eu mesmo gostaria muito de ter tido o talento para fazer (ou a boa vontade de um dos "meninos" para fazer para mim...) umas peças de mobília de bonecas que havia naquele livro... Era um livro lindo, ainda que não fosse colorido... todo ilustrado... com uma capa em papelão duro que imitava madeira... Não sei onde foi parar aquele tesouro!
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Pois é, eu não conseguiria dizer quando a palavra estresse entrou no meu vocabulário, mas, certamente já me encontrou adulta maior de 30 anos (portanto, meu primeiro fio de cabelo branco, aos 24 anos, não pode ser atribuído ao estresse, mas à herança genética!)
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Bem, eu falei muito sobre a ausência de estresse, pelo menos do tipo de estresse atual, que eu presenciei em casa, especialmente em papai... mas vou colocar aqui uma foto dele, depois de alguns anos de aposentado, numa fase em que já era bem mais estressadinho... afinal, já estava motorizado... ;-) Aliás, no trânsito, meu pai traduzia o estresse em buzinadas... ;-)
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Mais uma vez me perdi em um emaranhado de pensamentos que não me deixaram falar sobre o assunto que eu pretendia... Como já adotei o "não se avexe não" como lema principal de minha vida, quem sabe ele volte um dia à tona do meu poço de lembranças...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Dia do Amigo!

Do mesmo modo que se pleiteia a instituição do imposto único, vou aqui pleitear a fusão de algumas data comemorativas, que passariam todas a ser comemoradas hoje... no Dia do Amigo!
Mãe que é mãe é mãe-amiga, o bom pai é pai-amigo, a sogra é (ou deveria ser) uma amiga, os avós são amigos muito especiais... e os namorados precisam ser (também) amigos!
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Hoje eu recebi algumas mensagens de amigos (além de umas de pessoas que mal me conhecem, e outras mais de gente que eu não faço idéia de como meu endereço foi parar entre seus contatos...), mas não tive tempo de preparar uma minha também. No entanto, pensei muito nas pessoas que considero minhas amigas. Algumas delas até são de minha família, mas não é essa a razão da amizade que me liga a elas.
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Para mim, amigos são mais ou menos como uma família que eu levei para o provador e experimentei para ver se ficava bem em mim... Se combina comigo, se não aperta a ponto de me deixar sufocada, se o equilíbrio entre a suavidade e a aspereza é compatível com o que eu suporto e preciso, se "parece que foi feito para mim"; eu levo comigo, conservo sempre bem pertinho de mim, cuido para que não de estrague, guardo em local arejado e bem iluminado, lavo e passo vez por outra (para deixar com cheirinho de nova) e nunca (jamais!) descarto como imprestável ou fora de moda!
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Através de um programa de TV, hoje à tarde, fiquei sabendo que a data foi criada por um argentino como forma de festejar o primeiro aniversário da chegada do homem à Lua... Achei "uma viagem" longa demais, mas o que importa é que hoje a data é comemorada em todo (ou quase todo) o mundo!
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Na minha vida, os amigos são tão importantes que um dia tive uma que vivia apenas na minha imaginação... aquela Marina de quem já falei... provavelmente eu me sentia só naquele mundo tão grande e precisava ter alguém que entendesse meus medos e minhas brincadeiras.
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Lá em casa, eu não fui a única a ter amigos imaginários... Lembro que Fernando tinha dois: Guaxinim e Irmão Aluno... A mim ele contava algumas histórias desses amigos, mas eu não guardei nenhuma na memória... a não ser o triste fim de Guaxinim... "ele tomou café quente, fez uma ferida nas costas e morreu"... Dessa lembrança emprestada (pois é de Fernando), eu concluo que meu irmãozinho menos era bem mais esperto que eu: criou, buscando não se sabe de onde, um nome nome original para seu amigo imaginário predileto (Irmão Aluno só aparecia vez por outra...) e ainda encerrou a participação daquele amigo em sua vida, dando-lhe uma morte que, provavelmente, foi heróica (pois ter coragem para tomar café quente não era para qualquer um!).
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Quanto a mim, não sei onde deixei Marina... Nem tenho certeza se dei seu nome àquela bonequinha de minha primeira infância...
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Não sei se Erick teve algum amigo imaginário, como nunca me contou a respeito e como, quando pequeno, me contava tudo, não deve ter tido... Lembro, no entanto, que ele conversava "sozinho" quando brincava em casa com seus Legos e Playmobils... mas era sempre como se estivesse com Bruno, seu coleguinha de creche e seu grande amigo, naquela época... amigos desde os 6 meses de idade... quase irmãos (gêmeos!).
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Era como se o dia inteiro fisicamente juntos, brincando e brigando, não fosse bastante para a amizade deles e a presença no pensamento, em alguns momentos, sofresse um processo de corporalização... Uma coisa que eu lamento muito é que atualmente eles se afastaram muito. É como se morassem me cidades diferentes, apesar de estarem separados apenas por alguns, poucos, quarteirões.
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Pensando nos amigos que hoje são presentes em minha vida, também encontro situações parecidas com a que imagino ter sido vivida por Erick e Bruno. Muitas vezes me pego conversando mentalmente com alguém que não está do meu lado, mas que é exatamente a companhia que eu precisaria ter naquele momento, seja para compartilhar uma experiência, seja para pedir um conselho, queixar-me da vida ou fazer uma pequena fofoca.. (é até mais saudável fofocar mentalmente, não é?) ;-)
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Bem, já não é mais o dia do amigo, o relógio me diz isso insistentemente e eu vou encerrar aqui essa "oração" que dediquei a todos que passaram pelo meu pensamento enquanto a escrevia, pois os considero meus amigos do peito!
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Para ilustrar, uma foto em que apareço com amigas que fazem parte de minha vida desde aquela época remota em que não havia pegada humana na Lua...

domingo, 19 de julho de 2009

Confetes

Recebida a esperada ligação (cuja má qualidade deve ser resultado, foi acentuada pela minha ansiedade misturada com a natural deficiência auditiva, característica dos Medeiros de mais de 40/50 anos...) de Erick, dizendo que fez boa viagem e que está bem, retomo minha rotina do ponto em que me é possível, depois da enorme angústia à espera daquela chamada telefônica... ;-)
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Nos últimos dia, como lembro ter comentado aqui, minhas lembranças remotas andavam meio afastadas... ou eu andava meio afastada delas, talvez... O certo é que pouco apareceram aqui!
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Bem, ontem eu fui ao Itaigara (para os que não conhecem: o Itaigara é um pequeno shopping, meio falido mas muito simpático, pois não tem muito "cara" de shopping, que fica a cerca de um quilômetro do meu prédio) aviar uma receita em que meu médico (ortopedista e fisiatra, responsável pela cura de minha osteopenia e de minhas dores da osteoartrose...) prescreveu uma nova droga. Aproveitei a oportunidade e fui caminhando, já que ainda não havia começado a cair a chuva que se anunciava e que começou a cair à tardinha (e continua caindo, há quase 24 horas... mas com pouca intensidade).
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Pelo caminho, ao longo das calçadas mal conservadas ou inexistentes pelas quais subi e desci para chegar à farmácia onde mandaria manipular a Diacereína (gostei desse nome... mas Erick achou que lembra Ragatanga, ou "aserehe"... uma musiquinha irritante que as meninas cantavam e dançavam não faz muito tempo...), fui reencontrando minhas queridas lembrancinhas espalhadas...
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Não sei se elas aproveitaram que eu estava com minha atenção totalmente voltada para a viagem de Erick e escaparam do saquinho onde as conservo ou se as deixei cair, ao me debruçar da janela descuidadamente...
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Meu saquinho de lembranças é parecido com os saquinhos de confetes que eu (ou melhor, Lucinha!) ganhava todos os carnavais... Um saquinho retangular de filó (que não é a mesma coisa que tule, apesar da semelhança que guardam e que sempre dificultou minha capacidade de distingui-los! Parece que o tule é mais fininho e sintético, enquanto o filó é um pouco mais grosseiro e natural... Sou péssima artesã!) colorido, medindo cerca de 15 X 25 cm, fechado por uma fitinha de cetim da mesma cor... Eu nunca tive um daqueles que fosse roxinho ou lilás, em geral, eram vermelhos ou azuis, mas o saquinho onde guardo minhas lembranças é lilás e a fitinha roxa que serve para fechá-lo também me permite pendurá-lo no pescoço e deixar as lembranças bem junto ao meu coração!
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Bem, não sei como elas foram parar no meio da rua, mas tratei de ir recolhendo-as de volta ao meu relicário virtual! Encontrei lembrança tentando desviar seu caminho para evitar o cruzamento com um cachorro que estava solto na rua... outra à beira de uma poça d'água que bem poderia servir para se colocar um barquinho de papel daqueles que a gente aprende a fazer tão precocemente...tinha lembrança grudada em um muro de pedras, outra em outro muro, revestido de hera...
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A dor que senti ao dar uma "topada" em uma pedra que não vira foi amenizada pela presença de uma lembrança embutida na própria dor... Mais adiante, um grito que quase feriu meus tímpanos, soltado por uma menininha que brincava ("arengava?") com o irmão, me trouxe um punhado de lembranças arroxeadas de pancadas...
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Encontrei lembrança no aroma de pão quente que veio da padaria pela qual passei... e pendurada, em meio a uns utensílios de cozinha, em um "mercadinho" local... Parece que elas tomaram mesmo uma enorme queda da janela, se esfarelaram e foram espalhadas pelo bairro ao sabor do vento e da chuva, levadas nas patas dos cavalos que circulam por aqui, pelas asa e bicos dos pássaros que treinam suas asas e pousam nas nossas janelas...
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Uma dessas lembranças passou colada na roupinha de uma menina que caminhava de mãos dadas com a mãe, que lhe contava como havia sido sua (da mãe) infância... Uma outra estava em uma faixa usada por uma outra menina que brincava em um playground... uma faixa muito parecida com as "fitas gregas" que prenderam meus cabelos rebeldes em minha difícil puberdade...
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O engraçado é que, de repente, a rua parecia "ladrilhada" de pequenas partículas oriundas de minhas lembranças (à semelhança daquela rua ladrilhada "de pedrinhas de brilhantes para o meu bem passar"...) e bastava um olhar meu para que aquelas partículas ganhassem vida e mostrassem ser uma lembrança viva e inteira!
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Recolhi todas as lembranças que vi (o saquinho parece não ter fundo, ou elas são dotadas de uma incrível capacidade de compressão!). Sinto-me, novamente, repleta de lembranças que voltarei a despejar aqui... aos poucos, para evitar uma intoxicação (não alimentar, mas memorial!)...
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Hoje, encerro por aqui... com uma foto em que apareço com Felipe (no jardim de nossa casa, em Campina Grande, que absolutamente não tem registro em minha memória... É curioso como nossa memória, um "item de série e peça original de fábrica" requer alguns anos para ser inicializada e ter sua potencialidade disponível para uso!).
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A foto me prova que eu morei em Campina Grande (até nasci lá!) e que um dia já fui meio carequinha (preciso mostrar essa foto para minha cabelereira!) ;-) e, pelo menos para mim mesma, muito fofinha, ainda que um tanto careteirinha... ;-) Eu estava com um aninho e Felipe com três. O brinquedo que ele está segurando era um dos fabricados por nossa mãe artista... um "bubu", que devia ser dele e que eu devia querer para mim!
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sábado, 18 de julho de 2009

Erick e eu... separações

Uma nova separação entre mim e Erick... A "casa" cresce... a ausência, ainda que por um breve período, de uma pessoa tão amada é sempre algo que incomoda e que requer um tempo de acomodação para que eu me acostume... Apesar de estar cansada e com muito sono, não tenho vontade de ir deitar. Depois de escrever um pouco aqui, tentarei continuar uns trabalhos acadêmicos pendentes...
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Escrever aqui me é tão fácil... o texto não requer coerência nem coesão... também não me preocupo em ser concisa ou em dar um sentido preciso às minhas palavras... simplesmente as "derramo" na tela. Já os textos que preciso produzir para o fechamento do semestre na faculdade, esses estão me deixando de cabelos brancos... isto é, estão exigindo que eu pinte os cabelos mais frequentemente! ;-)
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Mas eu pretendo cumprir meus prazos!
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Sobre as separações entre mim e meu filho, a primeira foi na sala de parto... Ele deixou minha barriga (não muito voluntariamente... lutou para permanecer um pouco mais naquele ambiente ao qual já se adaptara e todos os médicos presentes à sala ajudaram a retirá-lo para o mundo aqui de fora!), foi trazido até mim para um primeiro contato e uma tentativa (relativamente bem sucedida) de sucção do peito que o alimentaria por um bom tempo. Mas em seguida foi levado para testes e limpeza e seguiu para o berçário... Sua primeira noite fora do útero foi passada longe da mãe, que ficou sentiu uma enorme falta da barriga e da presença constante que havia nela.
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Foi uma noite longa em que eu pouco dormi, inclusive porque perdia muito sangue (devido a miomas que naquela época também habitavam minha barriga). Mas na manhã seguinte, logo muito cedo, uma enfermeira boazinha me trouxe aquele pacotinho composto de um lençolzinho descartável recheado pelo bebê mais lindo que alguém já vira... meu filho! A delícia de tê-lo em meus braços apagou qualquer saudade da barriga...
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Nossa próxima grande separação aconteceu no seu primeiro dia em uma creche... Eu o havia levado lá antes do dia em que teria de deixá-lo, pois minha licença-maternidade já estava chegando ao fim e eu teria que voltar ao trabalho. O lugar era agradável, as pessoas pareciam muito atenciosas e carinhosas e eu sabia que deixá-lo ali era inevitável, mas ainda assim não foi nada fácil...
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Saí da creche com um nó na garganta, depois de amamentá-lo e de ter explicado à responsável pelo berçário, nos mínimos detalhes, como ele deveria ser cuidado...
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Como eu ainda estava afastada do trabalho, resolvi que naquele dia ele ficaria lá só um turno. A creche ficava em Ondina. Saí de lá e fui conhecer o Shopping Barra, que havia sido inaugurado poucos dias após meu parto e que eu ainda nem sabia exatamente onde ficava (mas sabia que era perto dali...). Lá no shopping eu encontrei muitas mães passeando com seus bebês... no começo eu apenas sentia uma pontadinha no coração a cada novo encontro daquele tipo, mas logo começaram a vir lágrimas aos meus olhos (e gotículas de leite molharam minha blusa)... em seguida aquelas lágrimas lavaram meus rosto e o leite jorrou mais abundantemente...
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Não consegui passar do primeiro piso... Fui ao banheiro para tentar me recompor e depois saí pela porta principal, para respirar ar fresco. O primeiro dia de Erick na creche não chegou a durar três horas... Corri de volta para a creche e não demorei muito por lá, voltamos para nossa casa. Depois, aos poucos, me acostumei a deixá-lo lá todos os dias e ir para o trabalho... Na hora do almoço eu ia lá dar de mamar a ele e voltava correndo para o trabalho...
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Como essa creche ficava relativamente distante de nossa casa, ele só ficou lá por um mês. A nova creche, que ele frequentou por quase um ano ficava na nossa rua (e bem perto do Empresa) e eu o levava para lá nos braços, caminhando com a sacola de roupas no ombro. Lá eu não senti aquela separação dolorosa que senti na outra creche... E lá eu pude amamentá-lo com mais calma, nos meus intervalos de almoço. Nossa separações diárias eram bem recebidas por nós dois.
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A terceira vez em que nos separamos com dor foi quando eu tive de deixá-lo em João Pessoa, aos cuidados e carinhos de sua família substituta (a do meu irmão Fernando). Lembro que chorei desde que me separei dele e durante toda a viagem rumo àquele apartamento frio e vazio onde passei longos doze dias sem o sorriso e sem o choro do meu filho. Ao final desse período, fui visitá-lo sabendo que passaria por uma nova separação dolorosa dentro de 2 dias, quando teria que voltar ao trabalho. Foi uma alegria enorme reencontrálo e tê-lo novamente ao peito, mamando e olhando meu rosto...
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Quando voltei para novos 12 dias de solidão e trabalho, estava mais tranquila... Não sabia que a interpretação dele seria diferente da minha... Quando eu cheguei de volta, daquela vez para buscá-lo para casa, fui radicalmente rejeitada por meu filho de um ano e dois meses... Ele deve ter ficado muito magoado e perdido a confiança em mim, ao ser deixado mais uma vez (essa é, talvez, a única coisa que fiz e da qual me arrependo terrivelmente. Se pudesse imaginar que o estava fazendo sofrer daquele modo, eu teria procurado outra solução para o problema da não coincidência das férias da creche com as minhas...). Foi muito difícil reconquistar a confiança e o amor dele e foi muito duro vê-lo sofrer e saber que era a culpada pelo sofrimento dele!
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Bem, superado o trauma, pequenas separações, às vezes anuais, às vezes semestrais, tornaram-se frequentes nas nossas vidas daquela época em diante. As férias que tirávamos um do outro sempre acabavam sendo boas para o nosso relacionamento. Hoje estamos separados de novo e novamente o apartamento parece grande demais... mas não é de um bebê que sinto falta e sim do filho companheiro, amigo, conselheiro e crítico... Sei que a viagem (ainda que tão curta) vai ser uma ótima oportunidade de crescimento para todos eles e acho que eles bem a merecem!
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Apesar de não gostar de ser fotografado, ele até pousou para mim com os amigos, antes do embraque!
.. ------------------------------Meninos, BOA VIAGEM!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Memória criativa, mas traidora

É engraçado como certas coisas começam a me acontecer de repente e acabam virando rotina na minha vida...
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Atualmente, encontros estranhos são cada vez mais frequentes...
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Há uma semana eu estava almoçando com Erick e Mari em um shopping bastante movimentado, as pessoas passavam apressadas e envolvidas em suas conversas... Enquanto isso na nossa mesa, a conversa era do tipo "miolo de pote"... ;-)
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De repente, uma mulher que acabara de passar conversando com uma amiga retrocede um pouco, curva-se em minha direção e olhando-me bem diretamente diz: É Carmen!
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Eu levanto os olhos para ela e tento lembrar quem seria aquela pessoa, mas minha memória (que me traz tanta coisa perdida em um passado remoto) nega-se a cooperar... Eu consigo manter um diálogo no qual não deixo transparecer que não sei com quem falo (afinal, a situação já não é tão rara em meu dia-a-dia...)... Ela pergunta sobre meu curso, se eu já o havia concluído... eu imagino que ela é alguém da Universidade (como demorei 6 anos para concluir meu bacharelado, conheci muita gente de Letras...)... Mas ela diz que agora está trabalhando na UP (Universidade Petrobras) e eu a coloco entre as pessoas que, de algum modo, trabalharam (ou militaram na política sindical) comigo...

Conversamos um bocado, mas eu continuei curiosa em relação a quem é mesmo aquela pessoa!
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Hoje pela manhã, ao passar rapidamente no supermercado, aconteceu novamente... Fui abordada por uma mulher que me elogiou bastante... disse que eu estava ótima com o novo corte de cabelo e a nova cor... que eu estava mais jovem... ;-)
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Na realidade, eu achei que a conhecia, só não conseguia lembrar de onde... Outra vez fui capaz de manter um diálogo um tanto vazio (estou ficando expert nesse tipo de diálogo!) e um outro tanto investigativo com a pessoa que eu não conseguia posicionar em minha vida... Ela me arrastou pelo braço para mostrar onde estava morando agora (como se eu soubesse onde ela morava antes...), contou que o sobrinho (que sobrinho?) tinha casado com uma muçulmana e mudado para São Paulo...
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Logo depois eu encontrei Erick, contei minha aflição a ele e pouco a pouco lembrei que ela devia ser uma vizinha que tivemos por muito pouco tempo e com quem pouco nos relacionávamos... Vou deixar registrado que era ela, mas não tenho certeza!
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Outra situação típica aconteceu em maio... eu ia entrando no TCA com Erick quando vi um rosto conhecido sorrindo em minha direção... retribuí o sorriso e ao passar pela moça trocamos breves saudações seguidas de um diálogo esclarecedor: ela achava que era Marta e o nome dela me era totalmente desconhecido...;-)
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Sempre tive dificuldade para guardar fisionomias. Não reconhecer uma pessoa com quem eu não tenha tido uma convivência intensa é uma coisa que não me surpreende. No entanto, o que acontece agora é diferente... Eu sou reconhecida (será que não existem muitos "modelos" de mulheres de meia idade e muitas se parecem comigo?) e quase reconheço a pessoa que fala comigo, só que a informação fica incompleta...
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Quando eu era menina e via coisas parecidas acontecerem com minha mãe, eu não imaginava que tudo de repetiria comigo... Aliás, hoje me acho parecidíssima com ela! Às vezes até me surpreendo quando a porta do elevador aqui do prédio se abre e vejo minha mãe, ao invés da minha imagem refletida no espelho!
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No passado, eu não conseguiNo passado eu não conseguia ver a enorme semelhança física que havia entre nós. Sempre tive dificuldade em comparar fisionomias de pessoas de idades distintas; hoje, que sou da idade dela, é muito fácil notar a semelhança!
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Enquanto digito aqui, Erick arruma a mala no quarto, com Mari... Minhas lembranças remotas se afastaram um pouco de mim hoje, para que eu pensasse mais na viagem dele... Ele viaja amanhã e eu fico torcendo para que a viagem dele seja muito agradável e proveitosa. Eu gostaria muito de ter tido, aos 20 anos, a oportunidade de uma aventura semelhante com meus amigos, mas os tempos eram outros!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

40 anos... 35 anos... mas parece que foi ontem!

Pois é... são passados 40 anos daquele dia em que vimos o homem pisar na Lua (ou melhor, vimos a partida do foguete levando os homens à Lua, a viagem demorou 4 dias!)... é incrível como hoje em dia, depois de vividos bem mais que 40 anos, para mim esse tempo passa tão rapidamente!

Quando eu era guria e ouvia mamãe falar que "a vida começa aos 40", eu achava muito estranha essa fala... afinal, eu pensava que estava viva... ou será que viver era outra coisa?
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Bem, talvez fosse uma daquelas coisas que os adultos falavam quando se reuniam (em geral, nas visitas de meus pais aos primos que moravam em João Pessoa... frequentemente eu os acompanhava nessas visitas) e que, às vezes, me mandavam sair do recinto, pois estavam tratando de "conversa de gente grande"...

Vez por outra eu ouvia um pedacinho daquele tipo de conversa... não entendia nada, principalmente, não entendia porque tinha que me retirar da sala na hora em que eles falam sobre coisas como "clube da chave" ou "festa do cabide"... Francamente, eu achava aquele povo muito cansativo e em geral acabava dormindo em alguma cadeira e voltando para casa no colo de papai...

Uma coisa que me marcou, naquela época (e que foi um daqueles assuntos de gente grande conversados meio em surdina) foi a história (ou os fragmentos dela que me chegaram) de uma moça, bonita como minha irmã, que havia sido morta no Rio de Janeiro (que para mim era o lugar mais longínquo e estranho do mundo... era lá que morava uma tia que aparecia lá em casa vez por outra e que eu acho que meu pai não gostava muito da presença dela... tia Iná). O nome da moça morta era Aída Cury... eu vi a foto dela em O Cruzeiro!

De volta à Lua... (minhas digressões cansam até mesmo a mim... mas fazem parte do meu modo meio interrompido de ser!)

A primeira lembrança que tenho de viagens espaciais vem de marchinhas de carnaval ("Gagarin, subiu, subiu, subiu... foi até o espaço sideral...", ou "todos eles estão errados, a lua é dos namorados...") e de uma blusa que eu usava estampada com "sputniks" e cheia de "bip-bips"... (impossível alguém imaginar minha blusa a partir da descrição deficiente que acabo de fazer...) ;-), Meus "irmãos grandes" falavam que os russos tinham mandado uma cadelinha chamada Laika em um foguete... eu também vi as fotos nas revistas, mas não entendia a razão daquilo!

Eu já sabia que na lua tinha um dragão e eu pensava que aquelas viagens só podiam ser para matar aquele monstro, que talvez fosse igual aos dos livros de contos de fadas... eles tinham muitas cabeças e quando as cabeças eram cortadas voltavam a crescer, como o rabo das lagartixas que meus irmãos mutilavam...

Em 1969 eu já nem lembrava daquelas fantasias de criança (que agora me voltam tão claras e com tanta frequencia... chegando mesmo a me assustar!).

Em 1969 eu já saíra de João Pessoa e morava em Recife, me preparando para fazer o Vestibular, que seria de Arquitetura, mas que acabou mesmo sendo de Engenharia... Não lembro de ter tido maoires emoções com o feito dos americanos, estava mais preocupada em não ficar maluca morando com Bartolomeu (que quando me via agarrada aos livros, me mandava para um pouco de estudar...) e Felipe (que dizia que eu não passaria no Vestibular, porque não pegava nos livros!). O convívio com meus irmãos foi uma ótima preparação para o futuro enfrentamento das contradições de minha vida adulta! ;-)

Essa história de estudar arquitetura, em acho, foi uma ilusão que alimentei até me conscientizar que não tinha o talento necessário para ser aprovada na prova de aptidão, à qual teria que ser submetida para entrar na faculdade. A Engenharia surgiu como alterenativa bem mais viável... ;-)

Na realidade, acho que as decisões que vieram a definir o meu destino tiveram muito de improvisação... e de intuição, é claro!

Foi assim, meio por acaso, que me inscrevi no concurso da Petrobras e acabei cumprindo uma promessa que fizera a mim mesma ao conhecer esta terra mágica em que moro há quase 35 anos e que adotei como sendo minha também (é... eu sou "parai-perna-baiana... perfeitamente identificada com os costumes e com as pessoas das minhas três "cidades natais"!). Quando os representantes da Empresa foram à minha sala de aula para nos convidar a participar do concurso, dirigiram-se apenas aos meninos, pois, naquela época, a Petrobras não admitia engenheiras em seus quadros... (acho que a primeira contratada foi Regina, da RLAM, uns 2 ou 3 anos depois de minha admissão)


Lembro que o discurso do "preposto" (essa palavrinha eu acho horrorosa, mas aprendi lá na Petrobras...) foi muito machista e causou uma grande revolta em minha colega Graça, que quase o coloca para fora da nossa sala... ;-) Bem, na ocasião ele falou que haveria uma possibilidade para nós, as quatro meninas da turma de Elétrica: a inscrição para o cargo de Analista de Processamento de Dados, mas que a prova só aconteceria em Salvador...

Naquela época, eu já fizera curso de programação COBOL na IBM e já me identificara muito mais com aquilo do que com as matérias que estudara na faculdade... Lamentei que não pudesse fazer o concurso...
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Poucos dias depois, meu irmão Carlos, que estava deixando a UFPB, onde era professor, falou que iria fazer o concurso da Petrobras, mas em Salvador... Era só o que eu precisava... uma companhia, mais que isso, uma carona para Salvador! Vim com ele, que depois desistiu de fazer a prova e foi para a Acesita, fiz minha inscrição e voltei para fazer as provas... (só depois eu fiquei sabendo que a informação daquele "preposto" estava errada... Hamurabi, meu primo, fez a prova em João Pessoa!)
Foi assim, com a ajuda da sorte (e talvez dos orixás) que as peças do jogos se arrumaram de modo a me permitir que a "menina" magrinha de calça branca que aparede na foto mudasse para a terra (e permanecesse nela!) que conhecera em janeiro de 1971 e pela qual se encantara sobremaneira!
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Uma coisa interesasante, da qual eu nem lembrava mais, que me caiu recentemente nas mãos, foi um guia da cidade de Salvador publicado em 1951 (ano de meu nascimento)que me foi dado por papai (ele ganhara de um tio) quando vim morar na Bahia... Adorei reencontrar o livrinho, que hoje fica na minha cabeceira. Acho que , de algum modo, papai sabia que eu havia encontrado o meu lugar!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Lembranças indigestas

Mais uma vez Erick acorda sem estar com a saúde 100% em ordem (como eu gostaria que estivesse!)... Está com uma leve amigdalite que me deixa ligada em sua cura...
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A dor de garganta de Erick, aliada à releitura da experiência traumatizante do mingau de farinha do Maranhão, leva meu pensamento para um outro pequeno (?) trauma de infância, este associado a remédios...
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Foi em Santa Luzia, a terra natal de meus pais, no sertão paraibano... Como já devo ter falado neste blog, eu frequentei muito pouco aquela cidade... Acho que a primeira vez que fui lá foi depois da morte de vovô Berto, quando eu tinha quatro ou cinco anos... Creio que toda a família viajou para lá, na ocasião, mas eu só lembro dos irmãos que ainda eram crianças e que passavam o dia "molecando" na rua com os amigos.
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Lembro de Bartolomeu e Carlos com "baladeiras" novas, enfiadas nos bolsos traseiros das calças (não sei se a memória não foi contaminada pela imagem do Pimentinha...), compradas na feira que funcionava em frente à casa de nossos avós. Acho que eles iam caçar passarinhos e matar lagartixas (meninos malvados!)... Aliás, quando eu era pequena ouvi dizer que as lagartixas choravam quando nascia um menino, que representava perigo para elas; mas sorriam quando nascia uma menina, que, por serem medrosas, eram garantia de diversão para qualquer lagartixa... Pense no mundinho machista em que fui criada!
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Também lembro que eles catavam pedrinhas (seixos) polidas para jogarem "gera", uma brincadeira infantil muito comum, naquela época; e que jogavam bola de gude no meio da rua...
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Pois é... eu estava, é claro, excluída das brincadeiras deles... Devo ter brincado com Felipe e Fernando, mas não lembro...
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Lembro que foi nessa ocasião que conheci outros dois primos queridos: Conceição e Hamurabi (na época, Bi... hoje, Hamurábi...). Esses seriam ótimas companhias para mim, pois nossas idades eram muito próximas, mas eles, acho eu, moravam na cidade e não estavam hospedados na casa de vovó, como eu... Não lembro de termos brincado muito juntos... eles deviam ter suas amizades locais!
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Hamurabi tem a minha idade e anos depois viemos a compartilhar amizades feitas no mesmo colégio (não chegamos a ser colegas, pois eu já havia ido estudar em Recife quando ele foi para João Pessoa e "caiu" exatamente na turma que eu abandonara, no Lyceu Paraibano... uma turma da qual não consigo, nem quero, me separar...). Também chegamos a ser colegas de trabalho, na Petrobras, mas ele pediu demissão e a partir daí nosso contato diminuiu (ainda que não tenha diminuído o carinho que tenho por ele!).
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.Já Conceição (a prima que todo mundo acha, ou achava, que é minha irmã gêmea), foi para João Pessoa antes do resto da família (estudar Medicina) e tivemos um certo contato na adolescência, que eu gostaria que tivesse sido maior! Na foto abaixo, além de Conceição (à esquerda, a mais alta!), estamos Carmo (de quem já falei antes), eu (como sempre, cuidando de Paulinho...) e Martinho (meu irmão, que morreu tão menino...). Estamos na Ponta de Seixas, que era assim em 1968... Eu frequentei muito o lugar em criança, quando íamos a pé, do Gonçalo até lá... No dia da foto, tínhamos ido de carro (ou, talvez, de jipe... que a gente não chamava de "carro"...), acho que com Bartolomeu...
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Bem, de volta ao Sertão... Durante aquela curta temporada em Santa Luzia eu tive uma diarréia (segundo papai, uma infecção intestinal) muito violenta e havia o risco de uma desidratação. Não sei a razão da diarréia, mas desconfio que a culpada foi uma "buchada" que me deram para comer lá... Alguém disse que teria sido porque eu comi muita groselha (uma frutinha que havia por lá, mas que não guarda relação de semelhança com o xarope que hoje conheço com o mesmo nome...) quente... Sempre falavam que "fruta quente" (isto é, tirada do pé, saboreada na hora e sob o sol...) era prejudicial à saúde, mas eu nunca acreditei! (nunca fiquei doente por causa dos cajus e dos araçás do Gonçalo!)
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A buchada é minha principal suspeita daquele atentado à minha vida! Pois é... minha cura foi muito complicada... Apareceu um primo de meu pai (como todos os demais habitantes da cidade!), segundo minha memória, que era farmacêutico e, segundo minha memória, chamava-se Belmiro... Ele levou uns comprimidos enormes que eu deveria tomar (ali eu criei um pavor enorme àquele cara! Morria de medo dele e ainda bem que poucas foram as outras vezes em que tive que encontrá-lo!)... Tentaram de todos os modos fazer com que eu engolisse aquilo, mas era totalmente impossível! Chegaram a tentar fazer com que eu ingerisse o remédio embrulhado em bala "puxa-puxa", que eu adorava... Mas eu punha a bala na boca, chupava até chegar ao comprimido, que eu cuspia fora!
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Não lembro como fui curada, mas fui! E lembro que depois daquela vez eu só provei a tal buchada já com 22 anos, na casa de uma amiga, no interior de Pernambuco. Novamente minha reação foi uma diarréia e eu, que não sou praticante de esportes radicais, não voltarei jamais a comer aquilo!
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Tanto na casa de meus avós, como na casa de Antonieta, o preparo da buchada incluiu o abate do carneiro no quintal, à vista de todos... Acho que todo o meu ser já começa a rejeitar o prato a partir daquela triste cena... Eu também não gostava de ver quando mamãe matava galinha, cortava o pescoço e deixava a bichinha pendurada, o sangue escorrendo para depois virar "molho de cabidela"... Eu sentia algo entre nojo e pena...

terça-feira, 14 de julho de 2009

Lembrança maior do que "o cobertor"

Eu volto aqui agora para completar a postagem anterior, pois ao me dirigir para o Pilates fui incomodada pelas lembranças hoje postadas que reclamavam estar incompletas... (minha proposta é escrever apenas uma vez ao dia... espero que a situação não se repita!!)
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Sobre o mingau embolotado, faltou dizer que talvez seja uma lembrança ainda mais remota do que a das formigas em procissão na varanda... Eu devia ter uns três anos, vovô Berto ainda era vivo e ainda frequentava nossa casa (minha lembrança dele é muito vaga... ele era tuberculoso e nós não nos aproximávamos muito dele... pelo menos comigo era assim... De vovó Xixica eu lembro que, naquela época, eu gostava de pentear seus cabelos brancos e compridos... eu subia num tamborete atrás da cadeira em que ela estava e ficava penteando aqueles cabelos que eu achava tão bonitos!).
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O tal mingau me foi oferecido em uma mamadeira (eu ainda usava mamadeira na época!) meio diferente... na realidade, era uma garrafa de guaraná (que não lembro ter bebido!) com um bico comprido de uma borracha meio transparente... Lá em casa, eram assim as mamadeiras dos que já não eram bebés (sim, com acento agudo, que era como falávamos!)... O bico de minha garrafa teve que ter o buraco ampliado, para que aquele monte de bolotas pudesse passar por ele!
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Pode-se ver que tentar tomar aquele mingau foi mesmo uma experiência traumatizante!!
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Quanto ao leite, era entregue em domicílio... assim como o padeiro nos levava o pão, o leiteiro se encarregava de abastecer a casa de leite... Ele vinha em uma carroça de burro (ou cavalo?). Às vezes entrava até o quintal e eu podia dar um pequeno passeio de carroça até a rua, na hora da saída dele...
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O leite era entregue in natura e guardado em uns depósitos (não lembro como se chamam esses depósitos, mas vejo uns parecidos aqui no prédio onde moro... numa garagem cujo dono deve ser fazendeiro...) metálicos com tampas que os fechava muito bem. Acho que aquele leite só era fervido na hora de ser servido.
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O bom era quando, ao ser fervido, ele "talhava"... Aí virava doce e eu gostava!! Claro que não era um doce de leite igual ao que tia Lilia fazia e levava para a gente quando ia lá para casa (acho que era sempre em dezembro, que meus avós paternos e minha tia nos visitavam...), mas qualquer doce era muito melhor que leite!!
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Uma coisa que me fazia ter repugnância do leite, era a nata que se formava sobre ele ao esfriar... Pois é... eu sentia nojo daquilo, mas lembro que Carlos adorava... eu realmente tinha um paladar diferente do dos meus maninhos... ;-) Meu leite, morninho, tinha que ser bem coado!
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Na realidade, quase todos nós coávamos o leite para beber... apesar de mamãe retirar a "nata grossa" antes mesmo de colocá-lo na leiteira. Essa "nata grossa" virava um delicioso creme salgado que passávamos no pão (era nossa "manteiga boa"!). Às vezes mamãe "apurava" essa manteiga para transformá-la em manteiga de garrafa, mas eu não gostava... preferia a "manteiga boa"! Se bem que o subproduto da manteiga de garrafa era bem gostoso... A gente chamava "borra"... era a parte sólida que restava depois que a manteiga era "apurada"... mamãe misturava aquela borra com rapadura (não sei se era só com rapadura ou se havia outro ingrediente...) e aí ficava gostoso!
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Além de virar manteiga, a nata também virava, mais raramente, deliciosos biscoitinhos (que mais tarde eu aprendi a fazer...)
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Do café, lembro que nunca aceitei bebê-lo com leite (argh!) e que gostava mesmo do que mamãe fazia (depois assumi essa tarefa também, com muito gosto!), porque era forte... segundo meu pai, era "uma górda" (nunca ouvi essa palavra em outro lugar que não minha casa!)! Quando era ele que fazia, o café era meio fraco e eu não gostava muito...
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Acho que agora esgotei o assunto... (espero!)

Dia de chuva

Com a academia cheia, hoje só suportei meia hora na esteira, mas como vou fazer Pilates mais tarde, não fico em débito com minha "personal trainer", que sou eu mesma! ;-)
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O dia amanheceu chuvoso, mas quando abri a janela para respirar um pouco do ar ainda pouco poluído do dia senti o mesmo cheiro de todos os dias... Da minha janela de hoje, o cheiro do ar não muda quando chove... Quando eu era pequena a chuva tinha um cheiro peculiar, que aprendi recentemente, com uma professora muito linda e muito querida, Suzana Cardoso, que é cheiro de "terra sarolha"...
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Dia chuvoso na na Pedro II, com aquele quintal enorme, cheirava a terra molhada. Se a chuva era forte o suficiente para "correr biqueira", a gente aproveitava para tomar banho de chuva. Esse é um costume bem sertanejo que mais tarde eu vi preservado por minha cunhada Odinete, que além de festejar a chuva com os filhos (também acompanhada pelo afilhado, Erick...), ainda pegava a bicicleta para correr sob a chuva, promovendo uma farra parecida com a que mamãe liderava conosco...
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A pirralhinha bochechuda ao lado era adepta de banhos de bica, debaixo da chuva e, sempre que possível, correndo um pouco na lama também! Acho que naquela época não fazia um mal tão grande... ;-) Afinal, nem se sabia ainda o que era poluição...
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Claro que Erick adorava esses animados banhos de chuva! Um belo dia, de volta das férias do meio do ano, que sempre passava em João Pessoa, na casa dos tios, estava na escola (uma escola linda, que parecia um sítio e que permitia aos meninos uma vida muito livre e saudável), esperando que eu chegasse para buscá-lo para casa, quando começou a cair um toró daqueles que dias antes, em João Pessoa, ele comemorara com banho... Pois é... ele correu para o parque para aproveitar a chuva e foi resgatado de lá com uma certa dificuldade...
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Quando eu cheguei, ele estava na diretoria, enrolado numa toalha (mas ainda calçado com as botas azuis de plástico, que naquela época não tirava dos pés...). A diretora e a coordenadora (que nunca deviam ter experimentado o banho de chuva dos sertanejos!) me repreenderam seriamente por deixar meu filho agir daquele modo... Acho que ele não repetiu a dose depois daquele dia! ;-)
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Outra lembrança que dias de chuva me trazem é da praia... Quando chovia e o mar estava sereno... sem ondas... parecia um grande açude... e mamãe nos convocava a um banho de mar!! Era delicioso, mas as formigas de asa me incomodavam, pelo cheiro que sempre achei muito enjoado! Quando a gente voltava para casa, tomava outro banho gostoso: na bomba que puxava água de um poço artesiano... Depois era tirar as roupas molhadas, se enrolar em toalhas ou colchas quentinhas e beber uma dose de "Vinho Celeste" para aquecer. O dia estava completo!
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O Vinho Celeste era uma bebida que mamãe adorava e que eu também gostava muito, apesar do gosto de álcool (o teor alcoólico devia ser baixo, para ela nos oferecer ainda tão pequenos...). Eu não sei se ainda se comercializa o produto, muito menos com esse nome... Era "vinho de caju"... Mas o sabor que ficou na minha memória gustativa não tem nada a ver com o da cajuína, que acho muito enjoativa!
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Além do Vinho Celeste, às vezes mamãe nos deixava beber um pouco de vinho tinto misturado com água e açúcar... ela chamava a mistura de "sangria", mas depois eu experimentei sangrias mais saborosas e com efeitos bem mais "animadores"! ;-)
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É, as bebidas de minha infância deixaram registro forte na minha memória... umas por serem deliciosas, outras por serem intragáveis! Entre as intragáveis eu posso citar o leite de vaca, puro e quente... eu nunca suportei beber leite assim... nada me agradava em tal bebida: nem o sabor, nem a cor, nem o cheiro! Na minha fase de crescimento, fui obrigada a beber leite diariamente, pela manhã e à noitinha... Acho que eu era a única pessoa lá de casa que não gostava de leite... Lembro que alguns eram até comparados, por mamãe, a garrotes...
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Eu bebia minhas xícaras diárias de leite sob forte pressão paterna... mas meu leite era morno (a gente chamava "leite frio", era servido em uma leiteira pequena esmaldada em verde, só "os pequenos" se utilizavam desse leite, para misturar ao "leite quente", da leiteira grande... o meu era todo da leiteirinha verde!), bastante adoçado e com Nescau (meus irmãos tomavam Toddy, mas eu não gostava e papai comprava Nescau para mim...). Todos os dias eu tentava sair da mesa sem beber o leite, mas papai me fazia voltar e bebê-lo... No dia em que ele relaxou, eu deixei o leite de vez! (só voltei a bebê-lo na época em que amamentei, mas era por uma ótima causa!... e aí eu já bebia o leite gelado, o que amenizava o cheiro... e era leite desnatado... não gosto de alimentos gordurosos!)
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Outra coisa que me deram para beber um dia e que eu quase vomitei foi um tal de "mingau de farinha do Maranhão"... Era uma coisa bolotenta horrorosa! Não entendia como as pessoas gostavam daquilo! (disseram que era uma delícia..)
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Bem, eu não lembro quando foi que comecei a beber meu cafezinho tão querido e tão indispensável ao meu bem estar, mas para mim ele pode muito bem ser considerado o oposto ao leite... adoro seu sabor, sua cor e seu sabor! ;-)