sábado, 27 de fevereiro de 2010

Terremoto e macaréu

Para estrear meu cristalino novo, eu gostaria muito de escrever sobre alguma lembrança bonita e bem colorida... juro que tenho muitas assim!!
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Mas o terremoto do Chile não me deixou fixar o pensamento na seção de doces da minha "lembrançoteca"...
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Quando eu era bem pirralha (na época dos "meus oito anos"), nós morávamos em Tambaú (na deserta e longínqua enseada do Gonçalo, sobre a qual tanto já falei aqui...) e, naquela época em que ainda não tínhamos televisão, papai não nos deixava sem revistas informativas... Lembro que pelo menos "O Cruzeiro" e "Seleções Reader Digest", logo que chegavam, eram disputadas pelos maiores, que faziam "fila" para lê-las assim que chegavam... Eu acabava tendo acesso às mais velhas...
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... ((((( Vários dias depois... ))))))
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Já faz um tempão que comecei a escrever esse texto... não sei se vale a pena concluí-lo... mas tentarei assim mesmo... (tá vendo, Aninha, como teus puxões de orelha funcionam comigo?? Não sei se também funcionarão com Lucas...) ;-)
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Bem, voltando ao terremoto do Chile e à lembrança mais remota que tenho de terremotos e de Chile...
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A reportagem que vi no Cruzeiro, as fotos da destruição e do sofrimento das pessoas, me impressionaram demais!!
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Eu nunca ouvira falar em "Chile" (nem sei se já conhecia as "bombas chilenas"... acho que àquela altura eu só soltava traques e estrelinhas...) e fiquei mais tranquila quando soube que não era perto do Japão, logo, eu não corria o risco de chegar lá cavando "açudes" à beira-mar...
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Aliás, naquele mesmo ano eu aprendi que o Brasil não tinha fronteira com o Chile e juro que fiquei feliz com a notícia! Gente... folhear aquela revista me foi muito nocivo!! Provavelmente muito mais do que ouvir aquelas "conversas de adulto", às quais eu não entendia, mas que nunca me tiraram o sono... Aquelas fotos eu entendia!!
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Como sempre fui muito medrosa e impressionável, passei a ter medo de que o chão tremesse lá em casa também...
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Pouco tempo depois de ver as fotos do terremoto do Chile, eu tive acesso a um exemplar de Seleções no qual havia outra história (dessa vez, não havia fotos...) de um "macaréu" (que seria um tsunami... procurei "macaréu" no Houaiss e encontrei com a acepção de "pororoca", mas aquela revista gravou a palavra na minha memória com o sentido de maremoto...).
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Como estávamos morando praticamente à beira-mar, a história também me assustou bastante... Mas como meu amor pelo mar era enorme e bastante sólido (não deveria ser líquido??), consegui superar mais rapidamente o medo de que uma onda gigantesca invadisse nossa casa.
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No relato da revista, havia uma garota que teria mais ou menos a minha idade e com quem eu me identifiquei... Acho até que era ela que contava a história... Ela não conseguiu salvar o irmãozinho menor, que foi levado pela onda, usando uma camisa vermelha (é... as cores sempre são muito fortes em minhas lembranças...). E eu chorei muito por ela... Seria terrível se uma onda levasse Martinho!!
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Havia uma foto de Nossa Senhora de Fátima no quarto onde eu dormia (o quarto de Maria Sônia) e mamãe dizia que ela nos protegia... Eu pedia sempre a ela que não deixasse aquelas coisas terríveis acontecerem perto de mim!!
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Mais tarde, quando minha sobrinha Fernanda tinha mais ou menos a idade que eu tinha nessa época, e ia dormir comigo sempre que eu ia visitar meus pais, lembro que ela rezava muito, pedindo proteção contra um monte de coisas...
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Será que ela herdou meus medos? Ou toda criança de 8 anos passa por tudo isso? Lembro que Erick, nessa idade, ainda que não rezasse pedindo proteção, tinha medo que bandidos fugitivos invadissem nosso apartamento... não importava se os tais bandidos estavam em São Paulo... Pelo menos Fernanda e Erick tinham com quem conversar sobre seus medos...
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A foto ao lado é da pirralha medrosa que motivou o texto de hoje... Aliás, essa foto foi tirada em um estúdio... para comemorar meus 9 anos... pode-se ver que eu já sofrera a queda que resultou na quebra de meus incisivos superiores...
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O vestidinho que eu estava usando, de "fustão de cordãozinho", era um conjuntinho de saia pregueada e casaquinho... foi feito com o tecido da túnica que usei na minha Primeira Comunhão... Ainda posso até ver a túnica, na minha memória... toda branca, parecida com roupa de freira e com um "PX" de fita de veludo vermelho no peito... Eu achei que o "PX" era de "peixe, pois a igreja era dos pescadores...
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Quanto à túnica... Pense numa túnica imensa!! Desfeita, depois do evento (que também foi a Primeira Comunhão de Felipe e as Bodas de Prata de papai e mamãe... não necessariamente nessa ordem...), foi transformada em "roupa nova" para mim... Além desse conjuntinho, mamãe ainda fez outro vestidinho com o resto do tecido... lembro bem do outro, que tinha um decote em forma de coração e era composto com outro tecido (o fustão não foi suficiente!), de listras alaranjadas...

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