sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

A lapinha

Continuando com a minha visão dos natais de minha infância... (volto hoje, quase 10/01/10, para concluir meu texto de antes das "férias de fim de ano")
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Além da árvore de Natal, a gente montava o presépio, que chamávamos de "lapinha"... Mamãe tinha muitas figuras de gesso e dedicava uma atenção muito especial à lapinha...
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Quando, passeando à beira-mar, a gente encontrava uma daquelas pedras calcárias com forma, cor ou tamanho que nos chamasse a atenção, levávamos para casa para ser usada no cenário que mamãe montava cuidadosamente.
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Lembro que às vezes o tabuleiro de gamão (que ela adorava jogar!) servia de base para a montagem. O trabalho de preparação dessa base envolvia um chão, feito sobre um enorme papel de embrulho (meio amassado, o que dava um efeito muito legal) no qual se passava grude de goma (usávamos muito essa cola nos nossos trabalho, lá em casa!) e jogávamos areia da praia e pó de pedra colorida vinda da Ponta de Seixas.
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Lembro também que houve um ano em que os meninos fizeram uma linda cabaninha de madeira para servir de abrigo para a família de Jesus. A cabaninha foi cuidadosamente coberta de palha de coqueiro e ficou mais linda ainda!
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Eram muitas as figuras que participavam da nossa lapinha: havia o menino Jesus, que já vinha deitadinho em seu "bercinho"; Maria, de manto azul, e José, de marrom, apareciam ajoelhados e eram colocados ao lado da manjedoura.
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O anjo Gabriel "lindo e loiro" era colocado sobre a choupana (onde também se colocava uma estrela de rabo...). Também havia alguns pastores aparecia para ser colo, alguns pastores , uma vaquinha, patinhos (que ela colocava "dentro" de um lago feito com seu espelho de toucador...)
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Não lembro de montarmos a lapinha sem o menino Jesus, que, em muitos presépios só é colocado no dia de Natal... lá em casa ele estava presente desde o início... Mas os reis magos (com seus imponentes camelos), esses sim tinham data certa para entrarem em cena... o dia de Reis (o6/01)... Se bem que depois a gente deixou de obedecer esse ritual, uma vez que eles só ficariam expostos por muito pouco tempo, pois tudo era desmontado e reempacotado logo nos primeiros dias de janeiro... (os pobres Baltazar, Belchior e Gaspar mereciam uma exposição mais demorada...) ;-)
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Nosso ritual natalino, além da lapinha doméstica, envolvia uma verdadeira pereguinação pelas igrejas da cidade, para visita aos presépios que eram sempre muito bonitos e cheios de detalhes bem cuidados...
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A igreja das Mercês, a do Rosário, a de Lourdes, a da Misericórdia e a Catedral... essas eram visitas que nunca faltavam no nosso roteiro natalino... Mesmo quando morávamos na praia, íamos às igrejas, então, distantes para admirar os presépios (é engraçado, mas a esses eu não lembro chamarmos "lapinha")...
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Nos anos em que moramos em Recife, na minha infância, o número de igrejas que visitamos foi ainda maior... Eu adorava esse programa!
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Mais tarde, quando eu já era adolescente, lembro de ir com mamãe ver um presépio grande que a Prefeitura montara na Lagoa... naquele, os animais eram vivos, mas a montagem não superava a beleza dos que havia nas igrejas... será que ainda existe essa tradição?
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Aqui em casa eu gosto de expor meus dois pequenos presépios, na época do Natal (ainda que esse ano eu não o tenha feito...). Um é bem reduzido, de vidro e deve ter sido feito na China... O outro foi comprado no mercado de artesanato da Casa da Cultura, em Recife, e é de cerâmica colorida "a la Vitalino"...
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Uma coisa me ocorreu agora... lembrei que sempre associava "presépio" e "presepada/presepeiro"... Provavelmente, esses itens lexicais teem étimos distintos, mas na minha lógica infantil estavam muito próximos (ainda que eu não entendesse a razão!)...
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Será que a lógica de Lucinha faz sentido??
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Acabo de consultar o dicionário etimológico de A. G. Cunha... o étimo é mesmo o mesmo, para os dois itens...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A árvore!

Mais uma vez, desisti de tentar ir às compras hoje... Até havia combinado com Erick: iria ao shopping sem carro e ele me pegaria lá, quando estivesse voltando do estágio...
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Mas, quando penso em como é desagradável o clima das catedrais de consumo na sua data magna, preferi ficar em casa, ler um pouco, escrever outro pouco... e jogar FarmVille (essa é uma mania que tem me tomado tempo, recentemente... Depois falo dela... e de como me livrei dela!) ;-)
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Bem, voltando aos natais de minha infância, lembro de ajudarmos mamãe nas montagens das duas peças que, para mim, eram o Natal lá em casa...
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A árvore de Natal de mamãe era linda!! Muito delicada, feita de penas tingidas de verde escuro (acho que ela tinha dois estágios, mas não tenho clareza sobre isso...). Não lembro onde aquela coisa tão linda ficava guardada o ano inteiro, talvez fosse numa das estantes de papai, protegidas por aqueles grossos volumes de Revista Forense... Com certeza, era em um lugar que me era inacessível!
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As bolas, de aljôfar, muito frágeis, eram estocadas em uma lata azul enorme (era uma espécie de cubo de cerca de 60 cm de lado), bem velhinha... acho que a lata havia, um dia, contido biscoitos... tinha o formato aproximado das caixas de biscoitos Confiança que papai sempre nos levava...
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Cada bolinha (ou mesmo bolona!) era cuidadosamente protegida com papel de jornal, as maiores ficavam embaixo e as menores sobre elas... Era sempre uma alegria montarmos aquela árvores, desembrulhando com cuidado cada bola e, às vezes, lamentando que uma ou outras se houvesse quebrado...
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Quando encontrávamos uma bola quebrada, sabíamos que não haveria uma substituta à altura... Mamãe, vez por outra, comprava algumas bolas para repor as perdas, mas as novas nunca eram tão bonitas (com o passar dos anos, as novas já eram inquebráveis, uma heresia... bola de Natal há que ser frágil!!)... Nem vinham acompanhadas de uma história, como as que saíam da lata... É... muitas delas mereciam comentários de mamãe, antes de serem colocadas em seu devido lugar na árvore...
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Montar a árvore era um ritual gostoso e havia uma ordem certa para a colocação das bolas. Nossa árvore não costumava ter outros enfeites além das bolas... nada de laços ou festões... Lembro que um ano ela foi iluminada por lampadazinhas coloridas, mas acho que as luzes não eram uma regra...
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Se bem que eu lembro de ter ganho, sei lá de quem, um pequeno moinho de vento metálico, azul com a hélice rosa schoking... Pois esse moinhozinho virou peça de nossa árvore!! Eu ficava toda feliz por contribuir com algo meu para aquela beleza!!
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Ao montar a árvore, começávamos colocando as bolas maiores nos galhos inferiores (as mais simples, ficavam na parte menos visível e as mais rebuscadas ficavam bem na frente!). A distribuição das bolas obedecia sua variação de tamanho, ficando as pequeninas bem perto do topo, onde mamãe enfiava aquela linda ponteira!
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Acho que aquela árvore de Natal era muito antiga e que algumas daquelas bolas eram mais velhas do que eu! (talvez a maioria delas fosse...)
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Havia bolas simples, de tamanhos e cores variadas, mas havia outras trabalhadas... sextavadas, com gomos, com apliques de purpurina... As mais diferentes eram uma que tinham incrustações coloridas... Eram muito bonitas!! Aliás, a ponteira da nossa árvore era desse tipo!!
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Com "o progresso" aquela árvore tão linda, que foi tão importante na minha criancice, sumiu de minha vida... Quando Paulinho era pequeno, lembro que ela ainda era armada... eu mesma tomava a frente para a execução daquela prazerosa tarefa... A gente, pelo menos eu, sempre esperava com ansiedade o dia de montar a árvore... Quando e porque ela foi aposentada??!!
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Lembro que surgiram algumas modas e que mamãe quis aderir, pelo menos a uma delas... a do galho seco envolto em algodão... Aquela não era uma árvore de Natal, para mim!!
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Não sei onde foi parar a nossa árvore e seus enfeites... Não lembro de tê-los visto na casa de nenhum de meus irmãos... Ficou na minha saudade e na minha lembrança!




terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Comilança (pré-)natalina

Vésperas de Natal... Falta tempo e sobram festas!! Não vou à confraternização da Faculdade hoje... Pela manhã, fizemos o "amigo secreto do baixo clero" do nosso grupo de pesquisa, já saí de lá depois das 13:00h e soube que o pessoal que estava lá não vai ficar até a tarde... Como ainda terei a última aula de Pilates do ano hoje às 18:00h, também desisti de comparecer...
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Pois é... Eu gostaria muito de não ser exposta a tanta comilança no Natal... Não acho que confraternização tem que ter comida... Muito menos a quantidade e a variedade excessiva que acaba sendo oferecida nas festinhas de fim de ano... Parece que ninguém gosta de mim... que todos me querem ver gordona!! (ainda recebi de presente de amigo secreto uma enorme caixa de bombons de chocolate Ferrero Rocher... Como posso resistir a eles e continuar na minha incansável luta em busca dos 63 quilos??)
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Não lembro de haver, quando eu era pequena, toda essa (como diria minha amiga Elcinha) orgia gastronômica natalina...
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Lembro que papai comprava, talvez um mês antes do Natal, um peru vivo, na feira. O peru ficava lá em casa sendo especialmente tratado por mamãe, que o alimentava com milho para e, às vezes com um preparado cozido que lhe era "oferecido" goela abaixo... SE não me falha a memória, o procedimento era, não só para engordar o bichinho, como também para deixá-lo mais saudável...
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O peru, conforme minha lembrança, ficava amarrado com uma cordinha, pelo pé, em um cano que havia no meio do quintal lá de casa... era um cano com uma torneira, que era usada para ligar a mangueira e molhar as plantas... só não lembro é das tais plantas...
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Quer dizer, lembro de fruteiras, no quintal lá de casa... e dos pés de tomates que eu plantava... Tomates eram meu almoço predileto!! Sempre que podia, eu trocava o arroz-com-feijão por alguns (na época eu diria "algumas") tomates inchados... ou "de vez", como se fala aqui em Salvador...
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Lembro que papai ganhava (ou comprava e eu achava que ele ganhava??) cestas enormes de Natal... Era cesta mesmo, não era como umas modernas, que veem sem a cesta, não... Daquelas cestas, o que eu mais gostava era de uns biscoitos que vinhas em latas decoradas (acho que a marca era Duchen)... os biscoitos eram deliciosos, mas o que eu almejava mesmo era ficar com uma daquelas latas... Acho que nunca consegui... Mamãe tinha uma lata daquelas que eu achava linda! Era lá ela guardava coisinhas que lhe eram preciosas... Eu também queria construir o meu tesouro!!
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Pois é.. lembro daquelas cestonas, e lembro que vinham cheias de coisa que eu não gostava, como passas e uma latona de doce onde havia marmelada e "figada"... Eita docinhos ruins!! Eu preferia a goiabada...
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Mas essa também não era comum lá em casa... Os doces que costumávamos consumir era os feitos por mamãe... a goiabada "de corte" era comprada vez por outra, para ser derretida e servir de recheio para o bolo de rolo...
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Aí sim!! Esse eu adorava!! Mas não lembro se fazia parte do cardápio do Natal... Nessa época eu lembro que mamãe fazia um tal de "pudim Luiz Felipe" e um outro bolo tradicional por lá, o "bolo Souza Leão"...
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Eu gostava do Luiz Felipe, mas não do Souza Leão... A receita desse bolo é uma afronta a qualquer portador de uma taxa de colesterol maior que 100... Lembro que levava cerca de uma dúzia de gemas de ovos!! O bom é que sobravam claras para serem transformadas em suspiros!!
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Nos natais de minha infância, graças a Deus, ainda não nos haviam imposto (pelo menos no Nordeste, ou pelo menos lá em casa...) o consumo de panetones...
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Para mim, Natal tinha sabor, não só dos bolos que citei, como do peru, que era servido no almoço, pois não tínhamos Ceia e que não era desgostoso como os que encontro hoje; de passas, que mamãe adorava e eu tentei descobrir a razão mas nunca consegui; de queijo do reino, que eu era proibida de comer exatamente a parte bonita, que era aquela cobertura cor-de-rosa forte; de bombons Sonho de Valsa, que papai comprava para agradar à mamãe; e dos biscoitos amanteigados das latas bonitas...
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Definitivamente, eu não associava aquela festa diretamente a comidas... Aliás, os presentes também não eram o forte dos natais de lá de casa, quando eu era menina...
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O que mais me marcava eram a árvore e a "lapinha", mas sobre isso falo amanhã...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Carcará!! (o título foi colocado após a digitação...) ;-)

Será que ainda sei escrever aqui?? Será que eu já o soube algum dia??? O que sei mesmo é começar um tema e acabar em um outro... bem diverso do original.... Tomara que um dia eu aprenda a manter o foco, ao escrever e deixe de cair em digressões contínuas!! ;-)
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Bem, da última vez que postei algo aqui, estava em pleno processo seletivo para o Mestrado em Língua e Cultura da UFBA... era véspera do resultado da prova de língua estrangeira e eu nem imaginava que hoje voltaria como "selecionada"... ;-) Pois é... amanhã faço minha pré-matrícula e posso me considerar mestranda!
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Apesar de sempre ter gostado de ler e de estudar, nunca fui, exatamente, o que se considera uma aluna aplicada... Nunca tive uma meta bem definida e sempre fui dispersiva também nos estudos... Vou precisar mudar, ou não conseguirei cumprir os prazos do mestrado...
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Bem, mudar nunca foi um problema para mim... sempre me identifiquei com o Raulzito, ao cantar a Metamorfose Ambulante... ;-)
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Meus dias atuais teem sido de confraternizações natalinas e de preparativos para os 10 dias que passaremos com a família, em Recife e João Pessoa.
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Com isso, minhas lembranças aparecem e somem com uma velocidade não usual... mas posso curti-las, nem sei onde é o atual esconderijo delas... e já posso antever que me darão trabalho para recolhê-las espalhadas como a poeira que tem entrado pelas janelas aqui de casa vez por outra, devido a uma reforma no apartamento que fica diretamente sobre o nosso...
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É, morar em apartamento, principalmente em um condomínio onde "as torres" ficam tão próximas, traz contratempos que Lucinha jamais imaginaria enfrentar... ;-)

Por falar em enfrentamento e vizinhança, há uns dez dias tivemos por aqui um vizinho um tanto raro de se encontrar em plena zona urbana... um gavião... provavelmente, um carcará!

Eu só soube da chegada do vizinho pela TV... estava assistindo ao telejornal local, quando falaram do gavião que estaria assustando os moradores da Pituba... Como poucos dias antes havia sido capturado aqui perto de casa, um jacaré de 1,5m, achei que seria aqui por perto...

A imagem seguinte (a primeira foi do gavião no topo de um coqueiro, onde teria feito seu ninho) foi da parede de um prédio, muito parecida com a do nosso... logo após, apareceu uma das vítimas do gavião: um dos porteiros do nosso condomínio, que teve ferimentos no braço...

Nos três a cinco dias que se seguiram, pudemos assistir aos belos voos solitários da ave e ouvir seus piados que pareciam chamados... acho que o pobre carcará estava perdido... Há alguns dias ele não é visto ou ouvido por aqui, provavelmente o IBAMA conseguiu capturá-lo...

Espero que meu ex-vizinho, de quem fiquei fã - pela coragem, determinação e beleza - tenha sido relocado para um local onde possa ter uma vida digna!

Bem, esse meu retorno hoje foi apenas uma tentativa de retomar uma rotina (e para atender minha leitora mais assídua, minha sobrinha Aninha, a mãe do rei Lucas!).

Espero voltar amanhã, depois das três confraternizações às quais comparecerei!! ;-)