terça-feira, 22 de junho de 2010

Aniversários...

Quando já se viveu quase 59 anos, é natural que cada dia do ano seja marcado por algum acontecimento de nossa vida, seja um fato cheio de alegria e cor, seja algo doloroso e sombrio... A exatos 19 anos eu fiquei órfã de pai...

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Na ocasião, eu estava de férias em João Pessoa. Não sei exatamente a razão de ter ficado na casa de Fernando, ao invés de, como era meu costume, me hospedar na casa de papai... Talvez tenha sido pelo fato de ele estar vivendo uma "segunda lua-de-mel", depois que Cristina resolveu voltar a viver com ele...
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Naquela semana, papai estivera internado com crise de angina... imagino que deva ter sentido dores muito fortes, para chegar ao ponto de pedir para ser levado ao hospital... Ele, como a maioria dos homens, não gostava de mostrar fraqueza alguma, especialmente, diante de uma simples doencinha...
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Não lembro quantos dias ele ficou hospitalizado, mas eu pude acompanhá-lo uma noite no hospital... Ele acordou no meio da noite e rapidamente saiu do quarto para o corredor... queria ir ao banheiro e não percebeu, naquele momento, que não estava em casa... Saiu dali, eu acho, na manhã seguinte.
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Enquanto isso, nós estávamos animados, preparando a ida para o São João de Santa Luzia...
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No dia 22 pela manhã, fui "à cidade" para fazer compras relativas à festa junina. Lembro que estava no interior das Lojas Americanas (da Lagoa) para comprar chapéu de palha para Erick. Quando ouvi uma série de tiros que pareciam ser na frente da loja...
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As pessoas corriam e falavam assustadas, coisas desconexas... Eu também comecei a correr em direção ao fundo da loja. Havia entendido que o estabelecimento estava sendo assaltado e que havia bandidos atirando em todos que apareciam pela frente... Corri com as outras pessoas assustadas até encontrarmos um muro enorme, impossível de ser escalado... (acredito que se fosse mais baixo eu teria tentado pular!)
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Na realidade, o que estava acontecendo era a explosão de algumas das barracas de venda de fogos, que funcionavam "nos bambus" sem a mínima segurança...
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Assim que pude, saí dali e peguei meu ônibus para os Bancários... Mal cheguei na casa de Fernando, no entanto, recebemos um telefonema de Cristina dizendo que papai tivera um mal súbito e caíra dentro do box do banheiro... Ela conseguira socorrê-lo com a ajuda de uns surfistas que passavam em frente "lá de casa". Ele estava desacordado e ela apavorada...
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Corremos todos para lá. Encontramos papai gelado, deitado em sua cama... Lembro que Erick passou a mãozinha em seu rosto e disse que o avô estava frio...
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Tentamos conseguir uma ambulância para levá-lo para o hospital, mas, com o acidente dos fogos na Lagoa, não conseguimos...
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Marcelo tomou a frente e colocou papai em seu carro. Eu fui no banco de trás, apoiando sua cabeça... Marcelo guiava feito um louco e buzinava para que abrissem passagem, no que não era muito bem recebido pelos que trafegavam pela Epitácio àquela altura, saindo do trabalho e já planejando não voltar para o expediente da tarde, preferindo viajar para o interior para curtir o São João...
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Quando chegamos ao hospital, a pressão de papai era zero e ele foi direto para a UTI... Era uma sexta-feira e eu vestia branco, como costumo fazer toda sexta, desde que mudei aqui para Salvador e aprendi que essa era uma maneira de reverenciar Oxalá...
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De branco e sentada em atrás de uma mesinha à porta da UTI, as pessoas se dirigiam a mim buscando notícias de seus parentes e amigos, queimados pelos fogos da Lagoa... Eles pensavam que eu era enfermeira...
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Nunca soube muito sobre os feridos naquele acidente, mas, felizmente, as barracas de fogos foram banidas do centro de João Pessoa...
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Eu estava ali apenas esperando, ainda que com uma esparança muito tênue, que daquela porta saísse alguém com uma notícia boa para nossa família... No entanto, depois de um tempo que não poderia dizer se foi ou não longo, mas que me pareceu interminável, recebi a notícia que parecia uma sentença: Eu estava, definitivamente, órfã.
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Espero que estes dois estejam em algum jardim, a me esperar!

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