quinta-feira, 24 de junho de 2010

Bombas e traques

Desde ontem, na pracinha aqui em frente do prédio onde moro, intensificaram-se os pipocos, estalos e apitos dos fogos queimados pela criançada (e pela marmanjada) da redondeza... Devido aos jogos da Copa, a prática já vinha ocorrendo há alguns dias, mas a comemoração do São João tinha que ser marcada por mais fumaça e por maiores estrondos... Se bem que eu desconfio que os novos jogos irão provocar ainda mais pólvora queimada na pracinha...
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Como a praça fica ao pé de duas ladeiras e arrodeada por prédios altos e envidraçados e como os "petardos" são explodidos dentro de um quadrilátero formado por quadro bancos de concreto e, acredito eu, cobertos por algo como uma lata, os tiros são tão assustadores que devem estremecer as vidraças dos apartamentos de andares mais baixos e estourar os típanos de bêbes e, principalmente, dos cachorrinhos de pequeno porte que frequentam a pracinha... Eles gritam ainda mais do que o habitual...
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Eu sempre gostei das festas juninas, mas faz muito tempo que abomino esse costume da queima de fogos barulhentos...
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Quando eu era pirralha, meus irmãos mais velhos, no período junino, faziam um "bazar de São João" para angariar uns trocados... Com caixotes de sabão (é... o sabão era em barras, em geral manchadas, e vinha para o mercado acondicionado em caixotes de madeira...), eles faziam uma espécie de pequena estante, cheia de pequenos compartimentos...
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Colando papel de seda colorido, eles deixavam a estantezinha muito bem decorada (pensando bem, agora, elas pareciam santuários...), pronta para ser recheada de caixas de "bombas chilenas", de traques e de "cobrinhas-elétricas"; pacotes de "bombas de 3 tiros"; maços de "estrelinhas", de "chuveiros", de "pistolas", de "mijões" e de "busca-pés"; rolos de "espanta-coiós"... E até mesmo, uma vez ou outra, com um vulcão...
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Não tenho certeza se esses eram, exatamente, os nomes dos fogos, mas é assim que ficaram na minha memória... Eu achava lindos os bazares... Gostaria de usá-los como casinha para minhas duas bonecas, mas nunca tive essa chance... Não sei que destino tinham os caixotinhos enfeitados, depois do São João... aliás, também não sei quem comprava aqueles fogos, que, eu acho, eram adquiridos com o dinheirinho que os meninos arrecadavam de umas vendas corriqueiras que faziam...
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"Os grandes" repartiam entre si a venda de latas, garrafas, jornais e revistas... acho que cada um se encarregava de um "artigo"... Se não me falha a memória, quando Marcelo saiu para estudar no Recife, Felipe entrou na partilha... Depois que os outros foram saindo, acho que foram entrando Fernando e Martinho... eu nunca fui chamada a participar daquele negócio, que parece que era exclusividade masculina, como muitas outras coisas naquela minha casa onde os "meninos" eram uma maioria que sempre me esmagou...
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Lembro do carroceiro indo lá em casa levar o material que eles vendiam... Outras vezes vinha um comprador de menos porte, que trazia apenas um par de balaios nos ombros... Também não tenho ideia da finalidade daquela compra, só sei que "os meninos" limpavam a garagem bem animadinhos, pensando no retorno financeiro... ;-)
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Bem, como sempre, eu desviei o rumo da conversa... ou fui levada de lembrança em lembrança, para outro lado...
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Voltando aos fogos: um dia uma daquelas cobrinhas doidas voou em minha direção e se alojou em minha "juba"... Foi assim que desisti delas... Não lembro de ter sido queimada, mas não esqueço do cheiro horroroso que permaneceu por um bom tempo em minhas narinas... do cabelo queimado... Em outra oportunidade, soltando uma estrelinha, tive o pé queimado pela "gota" escaldante que caía delas quando terminavam de queimar... Naquela época, mamãe tinha sempre à mão um tudo de Picrato... Era nossa salvação!!
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Bem, espero que a pirralhada da pracinha não sofra as queimaduras que sofri... Mas acho que se acontecer com elas, certamente também perderão o interesse por essa "brincadeira" tão sem graça... Sem contar que aqui não se pode ter uma daquelas fogueiras imensas e extremamente fumacentas, que não conseguiam queimar inteiras em um só noite, ainda que fossem acesas um pouco antes do escurecer...

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