quarta-feira, 28 de julho de 2021

Uma velhinha desequilibrada

 Tô beirando os setenta
Bem do jeito que deus qué
Pouca gente inda aguenta
A chatura qui isso é 

Já num tenho paciência
Presses ômi e essas muié
Qui se enche de ciência:
Cagá regra é o qui eles qué 

Uma gente falsa e abestada
Sei muito bem acuma é
Fala bunito, numa pose retada
Só qué sê as prega di quelé!

Agora deu e vô simbora
Pois é lé com lé e cré cum cré!

Sempre fui uma pessoa curiosa e inquieta. 

Lembro de como foi testar se, realmente, a eletricidade provocava choque... na realidade, eu nem sabia o que era um choque... 

Achava que era aquela coisinha gostosa que eu sentia, às vezes, quando abria a porta de uma geladeira velha ou quando batia com o cotovelo numa quina qualquer.

Um dia resolvi experimentar o que era proibido: no quarto de meus irmãos mais velhos, que já nem moravam mais conosco, tinha uma lâmpada pendurada por um fio que descia do teto e ficava bem exposta, sem nenhuma luminária... a informação que eu tinha era de que se eu tocasse “no amarelinho da lâmpada”, levaria um choque... bem... peguei uma barrinha de ferro e toquei no ponto proibido... estava de sandália de borracha (japonesa, como era chamada em Jampa no final dos anos de 1950) e não senti nada... aí, tirei um chinelo e, quando o pé tocou o chão, senti uma dor imensa e acho que larguei o ferro... gritei... fui socorrida  e levada pro castigo... foi uma lição prática e inesquecível!

Muitos anos depois... talvez 30, pois já era mãe... estava eu no sítio de um daqueles meus irmãos mais velhos... havia saído do banho de riacho com meu filho que pedira para mamar... fomos pra casa, amamentei meu filho numa rede na varanda (ou no alpendre, como a gente também falava lá em casa) e deixei ele lá dormindo sossegado... 

Num canto, largado, estava o isqueite de um sobrinho... um diabinho veio me atentar, dizendo pra eu experimentar aquilo... subi na pranchinha de rodas... e comecei a me movimenta com a ajuda das redes e das paredes... Bem... ganhei confiança... larguei tudo, deixei o pé esquerdo na prancha e dei um impulso forte com o direito... e me estatelei no chão, de costas... o barulho do quengo dura batendo no chão chamou a atenção do pessoal que jogava baralho na sala (entre estes, meu pai) e todo mundo veio ver a cena patética... acho que foi ali o último carão que recebi de meu velho pai...

Bem... será que hoje, cerca de 30 anos depois... mais ajuizada... não está na hora de tentar de novo?!

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