terça-feira, 13 de outubro de 2009

Ciclos: início e fim

Hoje eu acordei muito cedo... Como seria o primeiro dia em que Erick deveria estar em Camaçari às sete e meia e como eu queria preparar o café dele, havia colocado meu celular para despertar às cinco e quinze e para tornar a me chamar cinco minutos depois, mas acabei acordando, assustadíssima, às cinco...
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Depois de um dia escuro com o de ontem, estranhei muito toda aquela claridade precoce e pensei que já seriam seis horas e que estávamos todos atrasados... Mas o horário estava certo e o dia já havia clareado há algum tempo... (estamos prontos para o início do horário de verão, que não funciona aqui...)
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Minha expectativa em relação a esse primeiro estágio de Erick deve ser devido ao fato de que eu nunca "experienciei" nada parecido...
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Durante meu período de estudante de Engenharia, o máximo de "atividade profissionalizante" que tive foram os curso de "processamento de dados" que fiz na IBM e na Burroughs. Mas esses cursos eram dados sem qualquer vínculo entre as partes...
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Minha primeira experiência profissional, assim, aconteceu mesmo quando eu passei no concurso para a Petrobras. Ainda assim, meu início de carreira foi uma espécie de prolongamento da vida universitária...
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Claro que a responsabilidade e as obrigações eram bem maiores, afinal, éramos pagos enquanto nos preparávamos para nossa futuras funções na Empresa. Mas eu não tive um primeiro dia só meu lá... foi um primeiro dia de um grupo de mais de vinte jovens, quase todos inexperientes, cheios de sonhos e dispostos a vestir aquela camisa linda que, desde sempre, tanto orgulho nos causava...
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De lá para cá, não foi só a logomarca que mudou. Muitas vezes me é difícil reconhecer na atual, a Empresa em que trabalhei, mas não foi só ela que mudou... mudou o mundo e mudei eu!
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Bem, de meu primeiro dia de "trabalho" (na realidade, foi o primeiro dia de uma semana de aclimatação dos novos funcionários), o que mais me marcou foi a volta para casa...
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Era uma segunda-feira, dia três de fevereiro de 1975, e eu estava, provisoriamente, morando no apartamento de Felipe, que ficava relativamente perto do Setor de Ensino onde eu passei meus primeiros nove meses de Petrobras. Saí de meu primeiro dia de aula às 17 horas, mas quando cheguei em Brotas já escurecera.
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Naquela época a Pituba (ou o Itaigara de hoje) era um deserto por onde passavam pouquíssimos ônibus da linha "Pituba-Comércio via Brotas", que era o único meio que eu tinha para ir e voltar para meu local de trabalho. Ônibus com horário "quase certo", mas bastante raro...
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Devo ter chegado ao conjunto onde Felipe morava por volta das seis horas da tarde... Estava escuro e as luzes estavam acesas em quase todos os apartamentos. Da janela do apartamento de Felipe vinha apenas uma claridade bruxuleante de vela, o que me fez pensar faltara energia e que Socorro não sabia manipular o disjuntor.
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A campainha, no entanto, soou quando pressionei o botão. Quem me abriu a porta foi uma amiga de Socorro (não lembro direito o nome dela... seria Nilda?) que estava passando uns dias por lá. Socorro apareceu chorando e nem foi preciso falar... na véspera nós já havíamos sido avisados por telegrama de papai, que Martinho estava paraplégico e inconsciente e que não havia mais esperança de sobrevida para ele...
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A morte de meu irmãozinho coincide exatamente com o início de minha vida profissional...
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Aquele dia marcou o fim do período de mais de três meses em que ele talvez tenha lutado pelo direito de participar da loucura do mundo dos adultos, mundo no qual eu penetrava muito lenta e timidamente...
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Espero que não haja nenhum fato triste a fazer contraponto à iniciação de Erick no mundo "adulto" e que ele goste bastante de todos os papéis que nele tiver desempenhar. Competência para isso eu sei que ele tem!

2 comentários:

  1. Que o Erick tenha os seus sonhos realizados e que a mamãe dele que já é orgulhosa do filho fique mais ainda!!
    Não sabia a história de seu irmão!! O título de hoje tem tudo a ver!

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  2. Também espero que ele aproveite o estágio... que goste de lá... ou que marque essa como uma coisa que não vai querer pra vida dele...
    É... a morte de Martinho me deixou revoltada, na época... ele era tão novinho... Hoje eu vejo a morte de outro modo...
    Bj!

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