domingo, 11 de outubro de 2009

Doce de vampiro?

Dia cinzento... dia ensopado... dia de preguiça... dia de aconchego... dia de isolamento... dia de encontros (comigo mesma)... dia de pensar na vida... dia de ler ficção... dia de telefonar para a família e para os amigos distantes... dia de escutar nossas músicas preferidas... dia de procurar um filme antigo na TV... dia de escrever muita bobagem... Quem sabe, dia de ficar na rede!
.
Eu havia planejado ir à praia hoje, esperava fazer uma caminhada à beira-mar e com isso marcar meu retorno às atividades físicas ao ar livre. Desde ontem, no entanto, meu plano esteve sob forte ameaça... O tempo aqui "fechou"... O sábado foi "abafado" e mesmo à noite foi de muito calor.
. ..
Apesar do elevado calor atmosférico, eventualmente amenizado por um ou outro "sopro" do vento que anunciava a proximidade de um dia de muita chuva, minha noite foi muito agradável, na casa de Américo, que ofereceu a Ana Maria (professora da universidade francesa onde ele fará um "pos doc" nos próximos quatro meses) um daqueles jantares que ele gosta de oferecer aos amigos...
.
Véspera de dia feioso e melancólico (isto é, um dia que parece estar com cólicas)... Noite de papos variados e inesperados... regados a bons vinhos... acompanhados comida feita com esmero e carinho (nada como ser amiga de quem curte cozinhar e receber os amigos! Se a o jantar estava delicioso, o que dizer daquela maravilhosa torta de morangos com a qual Silvana quase nos matou, a Mauro e a mim? Deve ter engordados uns dois quilos!)...
.
Depois do jantar e da sobremesa, café e música! Pobre Américo... tentar acompanhar um grupo "não tão afinado" não deve ser tarefa trivial... mas ele sempre consegue... ;-) Ao final, Ana ainda nos brindou, recitando alguns de seus poemas.
.
Ana, embora professora da universidade Paris 13, é bem nordestina, como eu... Ainda na tarde da sexta-feira, pude conversar com ela sobre seu percurso de vida e descobrimos que ambas temos origens na Seridó nordestino... Seu pai era de Currais Novos, cidade que fica próxima à Santa Luzia...
.
É engraçado como, mesmo tendo ido tão pouco ao sertão, minha porção sertaneja se manifesta em mim com tanta frequência... Pelo sotaque de Ana, eu já desconfiara que suas raízes não estavam tão longe das minhas... Apesar de viver na França há 42 anos, ela - como eu que estou na Bahia há quase 34 - não perdeu por completo as marcas da língua falada em sua casa...
.
Pois bem, aproveitei a oportunidade para ver se havia encontrado alguém que conhecesse o doce predileto de minha mãe e que não fosse da minha família... E aconteceu!
..
Sempre que cito essa sobremesa, as pessoas, enojadas, perguntam se não seria doce de vampiro... Mas... Ana conhece chouriço!!
.
Eu fico feliz, pois parece que mesmo "por lá" já não se consome mais (que deve ser ultra-calórico e cheio de colesterol, deve!) aquele doce artesanal feito com sangue e banha de porco com castanha de caju, rapadura, farinha de mandioca e especiarias, de cujo sabor aprendi a gostar ao longo da infância...
.
Lembro do tempo em que só gostava das castanhas que vinham enfeitando... Pouco a pouco, fui me acostumando com aquele gosto pesado e forte e hoje sinto vontade de voltar a degustar um pouco daquele doce tão raro e de sabor tão peculiar...
.
Chouriço é mais um dos doces sabores que habitam minha memória gustativa...

Nenhum comentário:

Postar um comentário