sábado, 31 de outubro de 2009

De olho no céu

Hoje eu passei o dia "de olho" no céu... um céu extravagante, que não economizou nos tons de cinza com os quais se cobriu o dia inteiro... Foi do mais clarinho, quase transparente (aderente à moda nude), ou mais escuro e fechado, quase roxo... Eu, que pretendia fazer uma caminhada no calçadão da praia, tive que me resignar com a esteira, na academia do prédio...
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Quando veio a noite, no entanto, o céu resolveu surpreender, se não a todos, pelo menos a mim... despiu toda aquela pesada roupagem que usou durante o dia e se mostrou completamente limpo. Despudorado, ele ainda ostentava, como uma jóia solitária, uma bela lua cheia!
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Lua cheia me lembra Tambaú. A Tambaú de minha infância, uma praia bem pouco iluminada, onde era muito mais fácil observar estrelas ou o nosso satélite brilhante e prateado. Naquele céu escuro, era muito bonito ver estrelas cadentes (meteoritos? Fosse lá o que fosse, eu tinha medo que aquilo caísse perto lá de casa!) ou mesmo raios de relâmpagos distantes (quando os relâmpagos eram próximos, eu não achava bonito... corria para a cama de mamãe!) em direção ao alto mar.
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Quando ainda morávamos na casa antiga, muitas vezes nos reuníamos em frente de casa depois do "jantar" (nunca tivemos o costume de jantar, lá em casa. Nossa refeição noturna era mesmo uma ceia típica do sertão, mas a chamávamos de jantar) sentados ao redor de mamãe.
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Não lembro de papai, nessas rodas. Ele nunca foi muito sociável mesmo...
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Lembro de uma época em que nosso vizinho da direita (inquilino de Dr. Severino), era Dr. Morais. Ele era muito alegre e tocava violão. Participava das nossas rodas e mamãe cantava aquelas músicas que eu dizia não gostar, mas que na verdade achava muito bonitas (principalmente quando cantadas por ela!).
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Acho que essas lembranças são de finais de 1960. Na época, papai já vendera a "casinha" para Robson e nossa vizinhança era bem animada. Não lembro se os adultos da casa de Robson participavam da rodinha liderada por mamãe, mas as meninas (Antonieta e Nevinha, minhas amigas) sempre estavam por lá. Além delas, a filha mais velha de Dr. Morais (Flávia, mais ou menos de minha idade) também frequentava aquelas reuniões.
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As noites de lua cheia, naquele verão, pediam sempre uma rodinha musical... Mas. na verdade, eu ficava pouco tempo por lá. Nós, a pirralhada, logo arranjávamos uma atividade mais movimentada, algo que nos fizesse correr (não entendo porque hoje tem tanta criança que não gosta de correr... eu adorava!!).
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Também lembro de algumas, poucas, vezes em que meus irmãos participaram de pescarias em noites de lua cheia. Não lembro qual dos vizinhos tinha rede de arrastão, mas lembro de ficar na beira-mar esperando a rede sair para catar piabas no meio dos sargaços... A maré sempre muito baixa e a água do mar bem morninha... minha vontade era cair na água, mas eu não tinha permissão e tinha que disfarçar, se quisesse mergulhar...
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A gente sempre ia com mamãe ver a lua "nascer"... Aprendi com ela que cada dia a lua nasce diferente... e era mesmo diferente o caminho prateado que ela desenhava no mar cada vez que surgia no horizonte e começava a subir devagarzinho... Às vezes mamãe conseguia levar papai para assistir ao espetáculo, mas ele não demorava por lá...
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Assim como assistíamos a lua nascer todos os dias em que ela vinha ao escurecer (lua cheia), podíamos assistir também, um pouco antes, como se fosse a sessão anterior à do nascimento da lua, ao pôr do sol. Era só olharmos em direção à mata... O sol sempre caía lá por trás dos cajueiros... talvez na lama no rio... onde às vezes íamos pegar caranguejos de casco azulado... (na verdade, só fui uma vez, não achei graça na aventura enlameada)
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Foi de tanto assistir ao pôr do sol em Tambaú, que quando eu fui estudar pintura, já aos 15 anos, tinha essa cena como minha principal inspiração... Haja céu avermelhado!! ;-)

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