sábado, 8 de agosto de 2009

Bordados

Há pouco eu recolhi as roupas que estavam secando no varal. Entre elas, um paninho de bandeja bem simples, é um retângulo de algodão (acho que é "percal", que me parece mais apropriado a roupa de cama, mas não importa!) rosa-claro arrematado com um bico de crochet ainda mais clarinho...
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O paninho me foi dado por mamãe. Aliás, também foi totalmente feito por ela! É um trabalho muito singelo, mas que eu acho muito bonito, especialmente pelo bordado que o completa de modo único! Em dois cantos diametralmente opostos, ela bordou umas folhas meio soltas. Bordou apenas o contorno das folhas e de suas nervuras usando pontos básicos que até eu aprendi, nas aulas de Trabalhos Manuais das Lourdinas. Mas o fez com uma combinação de cores que sempre me encantou! Acho até que foi por isso que ela o deu para mim...
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Mesmo amarrotado, como saiu do varal, continuo achando que o paninho que aparece ao lado é o mais lindo que tenho!
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Eu sempre gostei de ver mamãe bordando. Ficava mesmo encantada, principalmente quando ela bordava, na sua velha Singer (elétrica e, se não me falha a memória, inglesa) lençoizinhos de bebé (como já falei, na Paraiba, pelo menos antes da "Globo-alização", as criancinhas recém-nascidas levavam uma vogal final aberta!) ou mesmo a tradicional marca dos lençóis brancos lá de casa: ela "escrevia" o nome de papai manuscrito usando a máquina de costura comum! Não fazia nenhuma marcação a lápis ou coisa parecida, simplesmente escrevia ali aquele "Darci Medeiros" e o resultado, se não era igual, era muito parecido com sua caligrafia ao usar caneta!
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Apesar de ter aprendido alguns "truques" de costura com ela, nunca fui capaz de fazer nada parecido com aquilo!
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Para bordar os temas infantis nos lençoizinhos de berço, acho que ela riscava o desenho antes, mas mesmo assim eu considerava aquela uma coisa surpreendente... Os bordados eram sempre lindos, apesar de feitos com recursos que não eram, acredito, os mais adequados.
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O paninho que mostro aqui, foi bordado a mão e o que admiro nele é a criatividade do efeito final. Acho que, na realidade, ela fez o trabalho quando aprendia, com minha cunhada Cleonice, alguns pontos de croché (mais uma vogal final aberta!).
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Quando fiquei grávida, eu também quis fazer eu mesma algo para o enxoval de meu filho. Até planejei bordar, mas desisti diante da minha total falta de jeito com minha máquina de costura (que diz que permite pontos de bordado, mas não permitiu a mim!) e da minha falta de habilidade manual para bordados delicados... limitei-me a comprar tecido de algodão xadrez e fazer seis lençoizinhos, de cores diferentes, enfeitados com passamanarias (acho que é esse o nome, escutei essa palavra ainda ontem em um armarinho... na verdade, para mim, era mesmo "entremeio de bordado inglês") e fitinhas de cetim da cor do xadrez... Naturalmente eu achei que ficaram lindos... pelo menos foram feitos com muito amor e com o incentivo dos pontapés insistentes de meu bebê (aqui em Salvador, nos anos 80, com a vogal final fechada...).
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Mamãe devia gostar muito de trabalhos manuais, lembro que ela fez alguns cursos, já depois que Paulinho cresceu e que lhe sobrava mais tempo para ela mesma... Ela dizia que os trabalhos dela eram "de carregação", mas certamente que ela gostava de fazê-los... exatamente como eu! Nesse aspecto (entre outros) eu "puxei a ela"!
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Quando eu era menina, era Maria Sônia que eu via fazendo todos aqueles cursos atraentes: pintura (com Nevinha Araújo, nunca vi a pessoa, mas ouvi muito esse nome!), corte e costura (ela tinha um papelão enorme que usava quando ia praticar o que aprendera e usava também uma coisa maravilhosa: uma "carretilha" novinha! Mamãe também tinha uma, já bem usada. Eu nunca tive a minha! Aliás, elas também tiveram dedais, mas eu não! Será que quem vai ser freira não precisa ter essas coisas?), renda-irlandesa, frivolité, culinária (que eu achava ótimo, pois, às vezes, ela levava uns quitutes maravilhosos para casa e eu provava!) e datilografia...
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Eu também fiz curso de pintura, na extensão da UFPB, mas nunca tive o talento de Maria Sônia... Fui de uma turma de pintura Infantil e até cheguei a participar de uma exposição coletiva dos alunos (teve até convite e meu nome figurava entre os expositores, preciso encontrar onde foi parar o meu! Sumiu... como sumiu minha flâmula comemorativa de minha conclusão do Ginásio, no Lyceu paraibano...), mas acho que minha "carreira artística" ficou parada ali em 1966 por muito tempo.. até que a retomei, com os cursos de Teatro e Canto Cênico, em 2006... e voltei a entrar em recesso!! ;-)
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Hoje, escrevendo aqui todos os dias, eu, novamente, me identifico com minha mãe, que nos deixou, escritas em uma agenda velha (que lhe fora dada por Carlos) muitas pequenas mensagens... Apesar de adotar um estilo totalmente diverso do dela, eu também vou deixando aqui tudo que tenho a falar... inclusive, eventualmente, o que nem deveria falar!

6 comentários:

  1. Carmem, isso é um brinde para a alma. Você falando de suas memórias e eu lembrando das minhas. Acho que vou escrever algo. Você me inspirou. É o dom dos bons escritores e das boas escritoras...

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  2. Anônima querida (apesar do anonimato, tenho a certeza que és uma pessoa querida, se tens este endereço...!
    Que comentário delicado e que bom que´despertei em ti vontade de escrever!
    É um vício muito gratificante!
    Beijinho!

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  3. Carmen,
    Em Portugal, ainda hoje,se escreve bebé. Assim como cocó, e outras muitas palavras que, no Brasil, passamos a utilizar com o acento circunflexo. É que para eles, isso indica que a vogal deve ser bem pronunciada, e não branda. Salvador e Rio são os locais que por mais tempo mantiveram proximidade com a língua original. Vem daí a sua recordação. A propósito, lembro-me de uma gracinha que, em criança, dizíamos para os lados de Minas: "É, bebé?! Mamar na gata você não quer!!!". Só fui recuperar o sentido exato do que então dizia, anos mais tarde, quando fui morar em Lisboa. Um abraço.

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  4. Obrigada pelo comentário, Rejane!
    Na Paraiba, especialmente no sertão, ainda são usadas as vogais finais abertas... Inclusive para alguns francesismos, como "croché", ainda qiue ninguém use "guiché" ou invés de "guichê"...
    No interior de Alagoas, em uma farmácia, vi um rapaz pedir "cachéte" para dor de cabeça... (ao invés de "cachet" ou "cachê", como se costumam chamar os comprimidos por lá...)
    Beijinho!

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  5. Pois... exatamente. As palavras originárias do francês, em nossa língua são aportuguesadas retirando-se o "t" final e acrescentando o acento agudo no "e" para indicar que não devem ter pronúncia branda: croché (crochet), balé (ballet), etc... Quando um português fala, não percebemos a pronúncia tão aberta, e sim, uma simples oxítona. Mas quando um brasileiro fala, principalmente se for do nordeste para cima, aí o som é indubitavelmente mais aberto. Nós pronunciamos muito mais as vogais do que eles. E na escrita, os acentos também são ligeiramente diferentes.Curioso, não?

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  6. Curioso e apaixonante, observar qualquer tipo de variação linguística!

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