terça-feira, 4 de agosto de 2009

Contando as horas

Quando menina, fomos morar em Recife, para o tratamento de Fernando (nem sei se já falei sobre o acidente que queimou seu esôfago. O estreitamento que resultou dessa queimadura acompanha Fernando até hoje...). Deixar a vida livre que levava no Gonçalo e os amigos que havia feito lá foi uma perda que procurei compensar com as delícias de morar em uma casa "nova" (na realidade, a mais velha entre todas as que eu lembrava ter chamado de "minha casa"), "de primeiro andar", com varanda no "meu quarto", um quintal que tinha uma árvore na qual eu podia subir... Enfim, havia muitas novidades naquele casarão que papai alugou para morarmos em Recife por dois anos...
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A casa foi alugada parcialmente mobiliada. De nossos, só os móveis dos quartos (que ficavam no andar superior), novinhos, que papai havia encomendado a Lino (que acho que voltou a fazer móveis para nossa casa mais tarde). As camas e guarda-roupas dos meninos eram escuras e os móveis do quarto de papai e mamãe e do "meu quarto" (meu e de Maria Sônia) era de madeira clara (aliás, os tamanhos das camas também eram diferentes para "as meninas" e "os meninos", as nossas eram mais largas, talvez por haver mais espaço no quarto da gente...).
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A mesa de refeições também era nova ("by" Lino): o tampo era forrado de fórmica (na época, uma inovação!) e "crescia" ao ser desdobrado (aliás, ainda funciona assim, na casa de minha sobrinha Fernanda!). Foi naquela casa que nos acostumamos a fazer as refeições em um terraço, habito que levamos para a Pedro II, na volta a João Pessoa.
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Mas é exatamente sobre essa volta para casa que pretendia falar...
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Durante os dois anos em que vivemos em Recife, só fomos (pelo menos eu só fui...) uma vez a João Pessoa... e por apenas uma breve semana. Não lembro bem como foi a semana, imagino que tenha sido consumida em visitas aos primos de meus pais... Nem lembro se ficamos na Pedro II ou no Gonçalo... Minha lembrança maior é da viagem de jipe, que durou 4 horas e que tivemos que parar em Goiana para consertar o jipe, pois o "mangote" (não tenho ideia do que seja! Mas estava relacionado ao radiador...) havia furado. Ficamos, mamãe e "os pequenos" numa praça perto de um convento... nos divertimos por lá, enquanto era feita a manutenção do jipe.
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Na foto, estamos eu, Fernando, Felipe, mamãe, Martinho e papai., na Lagoa... A foto deve ter sido tirada por Maria Sônia, que acho que já estava morando em João Pessoa, em um pensionato (eu achava muito chique morar em pensionato, que eu não sabia direito o que era...) próximo à Catedral, na ocasião.
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Bem, é sobre a grande ansiedade que eu senti na véspera dessa viagem a João Pessoa. Ansiedade maior, só na véspera do retorno definitivo, quando, lembro bem, dormi de maiô, pronta para chegar na praia e mergulhar naquelas águas que me acolhiam com tanto carinho!
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Até hoje, apesar de toda a poluição que sei que existe em Manaíra (acho lindo esse nome!), entrar naquele pedacinho de mar me traz sensações que eu não encontro em nenhum outro lugar do mundo... mergulhar nas água de Manaíra (a não ser quando o mar está muito cheio de sargaços ou muito revolto) é quase como voltar ao útero de minha mãe!
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Pois é... aquela última noite que passei (não posso dizer que dormi, acho que não consegui dormir!) naquele casarão da rua da Amizade foi uma das mais longas da minha vida, acho que contei cada segundo dela... Lembro que Felipe foi dormir no meu quarto, na cama de Maria Sônia e fazíamos planos juntos... não lembro quais eram os planos, mas tinham a ver com a liberdade que havíamos deixado naquela praia!
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Tenho que dizer que a volta foi meio decepcionante... foi naquela época que aprendi que quando partimos nunca voltamos para o mesmo lugar... Os amigos que eu havia deixado lá já não estavam... assim como a menina que saíra em 1961 já não existia mais. João Pessoa não era mais tão atraente quanto na minha memória fantasiosa e eu já sentia saudades de Recife...
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Hoje, mais uma vez, estou contando o tempo, tentando fazer com que passe mais rápido... Daqui a umas 16 horas vou poder abraçar Erick outra vez. Definitivamente, esse apartamento vira, quase, um castelo mal-assombrado sem a presença dele!
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Filho, boa viagem de volta!

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