domingo, 2 de agosto de 2009

Na cama, com preguiça

Como é relativa a medida do tempo! Daqui a três dias estarei novamente ao lado de meu filho amado, mas esse tempo, a duração exata do carnaval de antigamente (que por parecer tão breve teve seu prazo estendido, aqui em Salvador e em outras cidades, para uma semana...), assume uma dimensão infinita, aqui dentro desse apartamento em que estou sozinha, tentando dar conta de minha produção acadêmica atrasada...
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Amanhã passarei o dia longe da internet e espero assim conseguir ser mais produtiva!
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Hoje cedo, do meu ponto de observação matinal (a janela do meu quarto) estive por um bom tempo comparando pequenas diferenças entre meu acordar... hoje e há cinquenta anos...
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Antes de mais nada, naquele tempo, quase sempre eu acordava em uma cama molhada... o maior drama que vivi em minha infância foi o de ser "mijona"... Minha incontinência urinária noturna me viu completar uma década! Como eu sofri por causa dela... como era humilhante ser chamada de mijona por meus irmãos e dormir em uma cama forrada de plástico... e como eu desejava um gole de água antes de dormir (meu pai me proibia de beber água após a ceia, na esperança de encontrar a cama seca no dia seguinte... mas de nada adiantava!).
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Não sei com que idade deixei de usar fraldas, acho que naquele tempo o uso delas não se prolongava tanto quanto hoje em dia... Também não sei qual a causa de meu problema, sei que fui citada como mau exemplo para todos os meus irmãos menores!
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Lembro da enorme vergonha que senti quando fui levada ao médico para que me curasse... e lembro que quase tanto quanto de xixi, eu molhava minha cama com as lágrimas provocadas pelo meu fracasso sempre que sentia aquele líquido quente ensopando o meu colchão...
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Bem, naquele tempo não dava para eu ficar uma boa meia hora acordada mas deitada na cama olhando pela janela. Era acordar, levantar rapidinho para tirar a roupa de cama que precisava ser lavada e colocar o colchão para secar ao sol!
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Hoje, quando encontro aquela menininha mijona meio assustada num cantinho qualquer de minha memória, procuro conversar um pouco com ela e acariciar seus cabelos desalinhados, talvez assim ela não precise chamar a atenção dos pais fazendo xixi na cama...
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Em criança, nunca vivi em uma casa que tivesse cortinas, assim, me acostumei a não usá-las e, apesar de ter persianas na minha janela, raramente as fecho para dormir. Assim, ao acordar "o mundo" invade meu quarto e eu posso "assistir a janela" antes de levantar... Hoje fiquei cerca de meia hora observando o movimento do bairro que acordava devagar, no domingo chuvoso.
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Quase todos os carros que desciam em direção ao meu prédio estavam com os faróis acesos, apesar da claridade matinal torná-los inoperantes. Na realidade, a prática dos faróis acesos (que muitas vezes também me atinge) deve-se ao fato de que quase todos saíram de enormes garagens escuras, descendo vários andares até atingir o nível da rua (minha garagem fica no quinto andar e frequentemente eu esqueço os faróis acesos ao sair dela, só os desligando após alguns quilômetros rodados...).
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Na nossa casa da Pedro II havia uma enorme garagem que ficava no fundo do quintal e era fechada por uma daquelas portas de metal que quando abertas ficam enroladas na parte superior da porta (eu sempre as chamei "porta de garagem"). Quando bem pequena, não tínhamos carro e a garagem era usada como oficina de marcenaria, de encadernação... enfim, para os hobbies de papai e também dos "meninos" (os maiores, que também jogavam botão por lá, às vezes). Era um local do tipo "menina-não-entra" (a não ser para ajudar a mãe a estender roupas lá, quando chovia...).
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Mesmo depois que papai comprou "o jipe", a garagem continuou sem servir de abrigo para ele, que ficava na varanda secundária da casa (que passou a ser o "terraço do jipe" e depois o "terraço do carro!"). Na realidade, aquela não era uma garagem muito funcional... Aquela porta era muito pesada e quase sempre eram necessárias duas pessoas para abri-la. Alem disso, era longo o percurso pelo quintal, onde quase sempre havia roupas estendidas para secar em arames que serviam de varal. Aliás, para completar, no caminho da garagem havia sido plantado um coqueiro! (como aparece na foto, em que Martinho está com a farda da Escola Técnica e ao lado da Variant, que acho que não chegou a dirigir...)

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