terça-feira, 21 de julho de 2009

Estresse

Às vésperas da abertura do ROSAE, estamos vivendo uma situação de grande estresse entre os que estão mais diretamente envolvidos com o evento (aliás, dentre em breve eu já não terei tempo para escrever aqui, o que, com certeza me fará sentir um estressante vazio). Entre os membros da Comissão Organizadora, pelo menos dos que estavam "de plantão" hoje no Instituto, eu sou a mais velha (embora, é claro, minha posição na Comissão seja bastante confortável. Estou fazendo o que gosto: contribuindo para que as coisas corram bem, mas como assessora... No caso, tenho assessorado duas pessoas que admiro muito, seja como profissionais, seja como amigos: Silvana e Américo), mas com certeza não fui eu que mais pronunciei hoje a palavra estresse... Vi muitos dos meus jovens colegas (em geral, meninos e meninas na faixa dos vinte anos, estudantes que estão trabalhando como monitores do Congresso) reclamando: "já não aguento o estresse..."
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E eles estão cobertos de razão... são vítimas do estresse desde o ventre materno... um estresse que eu não conhecia, na idade deles.
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Quando bem pequena, eu via meu pai sair para o Tribunal (seu trabalho era lá!) a pé, de terno branco e gravata cujo nó era dado diariamente, na frente de um espelho que ficava sobre a pia da copa... Eu gostava de ver papai dando aquele nó! Era algo tão mágico quanto um truque que ele fazia com um pedaço de cordão nas mãos (eu nunca aprendi, nem a dar o nó, nem a fazer truques com barbante...).
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Papai voltava para casa à tardinha, também a pé e eu não lembro de vê-lo trabalhando á noite, em casa... Lembro, sim, que havia uma estante enorme cheia de livros e que a maioria deles parecia tinha exatamente a mesma capa (para mim, eram iguais!)... e, apesar de não parecerem revistas, como Seleções ou O Cruzeiro (um dia abri uma... não tinha sequer uma figura!), eram chamadas Revistas Forenses... lembro do dia em que um caminhão do Sebo Brandão parou lá em casa e levou todas aquelas "revistas" grossonas e de capa azul claro...
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Bem, se aquelas revistas estavam lá em casa, era lá mesmo que elas eram lidas por papai, mas essa não foi a lembrança que me ficou das leituras dele...
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Na minha memória, papai aparece lendo o jornal (nas lembranças mais remotas, ele lê A União, que traz junto o Diário Oficial... eu sempre quis saber que jornalzinho pequeno era aquele, que parecia muito sem graça, pois não apresentava foto alguma...) ou os dicionários dele... Apesar de saber que ele gostava de literatura (ouvi falar até que ele tinha uma Divina Comédia em italiano...) eu não lembro de tê-lo visto lendo nada parecido... Também não o via ler as revistas que comprava para a família toda... Se bem que, já crescida eu o via ler a Veja...
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Voltando á rotina de trabalho de meu pai, como ficou gravada em minha memória (uma memória bastante infantil, pois ele pediu sua aposentadoria muito precocemente, para poder se dedicar ao tratamento ao qual Fernando teve que se submeter e que nos levou a morar em Recife no período entre 1961 e 1962)... Ele vinha, claro que também caminhado, almoçar em casa e retornava para o Tribunal à tarde; não sei como era o horário de trabalho dele, mas, provavelmente, como juiz (e depois como desembargador) não estava sujeito a registro de frequência... (será que naquela época alguém "batia ponto"? Lembro de ter ouvido comentários sobre livro de ponto de repartições públicas, mas não lembro quem comentou... Talvez tenha sido Maria Sônia, que também foi funcionária pública...)
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De qualquer modo, como morávamos muito próximo ao Tribunal, papai fazia todas as refeições (cujos horários eram fixos e respeitados) conosco... Fazia as refeições e ajudava mamãe no preparo dos pratos dos menores (eu me incluo entre esses menores!), cortanto a carne...
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É... a vida era bem mais tranquila na pacata João Pessoa dos anos 50 do que na Salvador de hoje... Meu pai também se encarregava de ir á feira (acho que ele ia por prazer, afinal, todo sertanejo gosta de uma feira livre!) abastecer nossa dispensa. Para acompanhá-lo nessa empreitada semanal, ele convocava meus irmãos mais velhos, que ajudavam no transporte das mercadorias... às vezes, inclusive, usando um carrinho de mão fabricado por Carlos (acho que ele fez a carroça de feira a partir das instruções que estavamem um livro que era um verdadeiro sucesso lá em casa: Com o Serrote e o Martelo... Eu mesmo gostaria muito de ter tido o talento para fazer (ou a boa vontade de um dos "meninos" para fazer para mim...) umas peças de mobília de bonecas que havia naquele livro... Era um livro lindo, ainda que não fosse colorido... todo ilustrado... com uma capa em papelão duro que imitava madeira... Não sei onde foi parar aquele tesouro!
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Pois é, eu não conseguiria dizer quando a palavra estresse entrou no meu vocabulário, mas, certamente já me encontrou adulta maior de 30 anos (portanto, meu primeiro fio de cabelo branco, aos 24 anos, não pode ser atribuído ao estresse, mas à herança genética!)
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Bem, eu falei muito sobre a ausência de estresse, pelo menos do tipo de estresse atual, que eu presenciei em casa, especialmente em papai... mas vou colocar aqui uma foto dele, depois de alguns anos de aposentado, numa fase em que já era bem mais estressadinho... afinal, já estava motorizado... ;-) Aliás, no trânsito, meu pai traduzia o estresse em buzinadas... ;-)
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Mais uma vez me perdi em um emaranhado de pensamentos que não me deixaram falar sobre o assunto que eu pretendia... Como já adotei o "não se avexe não" como lema principal de minha vida, quem sabe ele volte um dia à tona do meu poço de lembranças...

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