sexta-feira, 31 de julho de 2009

Doces lembranças

Hoje eu acordei sem precisar ser "chamada" pelo despertador... Hoje em dia, esse é um acontecimento que merece registro! ;-)
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Abri meus olhos e vi um céu meio nublado, uma "barra" escura pairava sobre os edifícios (a paisagem que vejo da janela de neu quarto é composta, basicamente, de prédios altos...) e eu lamentei pelo dia chuvoso que enfrentaria... Voltei a dormir por mais meia hora e o céu já estava com um aspecto totalmente diferente. Às seis e meia da manhã o sol já brilhava e fazia minha paisagem mais bonita! Os passarinhos já voavam em frente à janela, usada para seus eventuais pousos, como de costume... Ao longe, vi um avião sobrevoando a cidade... aparecendo e desaparecendo de meu campo visual povoado pelos prédios da vizinhança... Tive a certeza que teria um bom dia!
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Fiquei um bom tempo deitada olhando o céu... Aprendi a passar o tempo olhando o céu com mamãe... Ela sempre identificava alguma forma conhecida em cada nuvem... Em geral, eram formas de animais como carneirinhos, elefantes, girafas... Eu não achava o céu bonito, se não tivesse cheio de bichinhos de nuvem de algodão-doce pendurados nele!
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É... para mim as nuvens eram feitas de algodão-doce... daquela delícia que eu tanto gostava mas que só raramente me era permitido degustar (ou devorar!) ;-)
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Algodão-doce era quitute da Festa das Neves, ou de quando íamos passear na Bica ou na Lagoa... Era um doce parcialmente liberado por mamãe; e eu agradecia, pois os pirulitos de mel, que eram vendidos na rua por meninos, espetados nos furos de uns tabuleiros de madeira, esses eram terminantemente proibidas (era essa mesma a expressão que eu ouvia para as proibições mais sérias, em especial, para as que vinham de papai...). Mamãe achava que não havia higiene na fabricação nem na comercialização daqueles docinhos que eu tanto cobiçava...
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Em compensação, ela fazia deliciosas balas de puxa-puxa que a gente devorava rapidinho...
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Outros doces que me tentavam também eram proibidos sob a mesma alegação de falta de higiene...
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Entre as delícias açucaradas que me eram vetadas estavam uns doces lindos e deliciosos que eram vendidos na feira em tabuleiros (ou nas ruas, quando o vendedor, que anunciava o produto tocando uma espécie de apito de madeira parecido com um "pio" de caçar passarinhos, portava um suporte dobrável ao ombro e, quando chamado, abria sobre ele seu tabuleiro recheado...) . O "doceiro" usava uma espátula (que realmente não devia ser muito limpinha...) para cortar "talhadas" que eram servidas em um pedacinho de "papel de embrulho"... aquele era o nosso "doce americano" (que depois encontrei em em Recife, associado a outra nacionalidade... acho que "doce japonês", e mais tarde aqui em Salvador, com o sugestivo nome de "quebra-queixo"...)
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Também era na feira (ou nas "vendas" ou "mercearias" do Mercado Central) que se vendiam umas balas em formato de chupeta... eu não gostava muito delas, mas o tempero da proibição
as deixava bem apetitosas!
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É... parece que minha infância foi muito doce... é esse o sabor que me vem à memória, quando me vejo novamente naqueles vestidinhos de manguinhas curtas bufantes, sainhas franzidas na cintura e amarradas por laçarotes nas costas... (os franzidos das saias frequentemente eram vítimas de puxões por parte "dos meninos" e se soltavam desabando... eu "odiava" aqueles vestidos que me faziam frágil frente aos meus irmãos!)
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Doces (ou agridoces) lembranças...
cc
Na foto, estamos na Bica... Bartolomeu, Fernando, Felipe e eu (de dedinho na boca, mas ainda segurando um "buquê" de rolete de cana na outra mão...). Meu vestido é o mesmo que foi borrifado pela lança-perfume de Sóstenes... Na cintura, ele tinha um entrançado de fitas de cetim, que eram amarradas em um laço nas costas (era até covardia, além de ser mais fraca do que "os meninos" eu ainda usava os laços e saias franzidas que me tornavam presa fácil, quando brigávamos...).

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