quarta-feira, 1 de julho de 2009

A velha de capa!

Deve parecer engraçado, o título que coloquei neste registro; afinal, hoje se esperaria mais a garota (ou o garoto) da capa!! ;-)

Mas a figura à qual me refiro habita minha memória remota e, provavelmente, a de meus irmãos com idades próximas à minha...

Como falei anteriormente, morávamos bem próximo ao Mercado Central de João Pessoa, onde acontecia, às sextas e aos sábados, a feira livre mais movimentada da cidade. Como sempre acontece em locais como aquele, havia muitos pedintes que frequentavam a área para tentarem sobreviver da piedade dos feirantes e dos moradores das redondezas.

Lembro que me falavam que alguns eram "papa-figos" (ou "papa-fígados", talvez...) e eu tinha muito medo deles... Alguém me contara que eles pegavam as criancinhas para comer seus fígados... eu nem sabia direito o que era um fígado, mas aquilo me deixava estarrecida!

Aliás, eu associava "fígado" a um prato detestável que meus irmãos gostavam muito (o fígado das galinhas que nossa mãe sacrificava para os almoços dominicais eram especialmente muito disputados por eles...) e a "figo", que seria uma frutinha travosa que eu experimentara uma única vez, roubada de um arbusto da casa da vizinha que pendia para o nosso quintal...

Fui uma criança muito medrosa e continuo vivendo para vencer meus medos, reais ou imaginários, não sei quais os maiores!!

A velha de capa ia pedir esmolas lá em casa todos os dias e eu acho que nunca tive coragem de olhar diretamente para ela, quando percebia que se aproximava, eu corria para dentro de casa! (se pudesse, hoje eu lhe pediria desculpas por isso!)

Não sei porque a chamávamos assim... não imagino que fosse uma velha, pois tinha resistência para sair de casa em casa esmolando, enquanto outros ficavam apenas sentados no chão pedindo aos que passavam... tampouco posso crer que ela usasse uma capa no calor de João Pessoa...

Enfim, ela é uma das pessoas que, sem ter noção de minha existência, tem um lugar de destaque nas minhas memórias infantis.

Eram muitos os pedintes que iam diariamente lá em casa, mas só ela me aparece como uma figura concreta, ainda que com as feições indefinidas... sim, pois eu não consigo vê-la claramente, mas como um vulto magro e cinzento que eu não conseguia encarar.

Não sei quem me incultou aquele medo, talvez o primeiro de minha coleção...

Para ilustrar a lembranbça de hoje, aqui vai uma foto da menininha medrosa e impiedosa...

2 comentários:

  1. Eu tambem morava perto do mercado central e a minha mãe com minha avó, éramos vizinhos, iam para a feira e voltavam com o " homem do carrêgo", q carregava em 2 cestos pendurados nas ombros como se fosse uma balança, os nossos mantimentos p a semana. O rosto dessas pessoas me faziam ter medo tbem Carmen tamanha era a rudeza... e o papa figo, meu Deus, somos companheiras desta sua lembrança...

    ResponderExcluir
  2. Pois é, Lourdinha...
    As lembranças daquela época estão me visitando com uma frequência que até me assusta... Tenho que colocá-las aqui, para que me expliquem porque hoje me visitam tão amiúde...
    Tenho visto seus comentários e tenho respondido... Eles não somem!!
    Bj!

    ResponderExcluir