domingo, 19 de julho de 2009

Confetes

Recebida a esperada ligação (cuja má qualidade deve ser resultado, foi acentuada pela minha ansiedade misturada com a natural deficiência auditiva, característica dos Medeiros de mais de 40/50 anos...) de Erick, dizendo que fez boa viagem e que está bem, retomo minha rotina do ponto em que me é possível, depois da enorme angústia à espera daquela chamada telefônica... ;-)
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Nos últimos dia, como lembro ter comentado aqui, minhas lembranças remotas andavam meio afastadas... ou eu andava meio afastada delas, talvez... O certo é que pouco apareceram aqui!
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Bem, ontem eu fui ao Itaigara (para os que não conhecem: o Itaigara é um pequeno shopping, meio falido mas muito simpático, pois não tem muito "cara" de shopping, que fica a cerca de um quilômetro do meu prédio) aviar uma receita em que meu médico (ortopedista e fisiatra, responsável pela cura de minha osteopenia e de minhas dores da osteoartrose...) prescreveu uma nova droga. Aproveitei a oportunidade e fui caminhando, já que ainda não havia começado a cair a chuva que se anunciava e que começou a cair à tardinha (e continua caindo, há quase 24 horas... mas com pouca intensidade).
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Pelo caminho, ao longo das calçadas mal conservadas ou inexistentes pelas quais subi e desci para chegar à farmácia onde mandaria manipular a Diacereína (gostei desse nome... mas Erick achou que lembra Ragatanga, ou "aserehe"... uma musiquinha irritante que as meninas cantavam e dançavam não faz muito tempo...), fui reencontrando minhas queridas lembrancinhas espalhadas...
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Não sei se elas aproveitaram que eu estava com minha atenção totalmente voltada para a viagem de Erick e escaparam do saquinho onde as conservo ou se as deixei cair, ao me debruçar da janela descuidadamente...
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Meu saquinho de lembranças é parecido com os saquinhos de confetes que eu (ou melhor, Lucinha!) ganhava todos os carnavais... Um saquinho retangular de filó (que não é a mesma coisa que tule, apesar da semelhança que guardam e que sempre dificultou minha capacidade de distingui-los! Parece que o tule é mais fininho e sintético, enquanto o filó é um pouco mais grosseiro e natural... Sou péssima artesã!) colorido, medindo cerca de 15 X 25 cm, fechado por uma fitinha de cetim da mesma cor... Eu nunca tive um daqueles que fosse roxinho ou lilás, em geral, eram vermelhos ou azuis, mas o saquinho onde guardo minhas lembranças é lilás e a fitinha roxa que serve para fechá-lo também me permite pendurá-lo no pescoço e deixar as lembranças bem junto ao meu coração!
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Bem, não sei como elas foram parar no meio da rua, mas tratei de ir recolhendo-as de volta ao meu relicário virtual! Encontrei lembrança tentando desviar seu caminho para evitar o cruzamento com um cachorro que estava solto na rua... outra à beira de uma poça d'água que bem poderia servir para se colocar um barquinho de papel daqueles que a gente aprende a fazer tão precocemente...tinha lembrança grudada em um muro de pedras, outra em outro muro, revestido de hera...
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A dor que senti ao dar uma "topada" em uma pedra que não vira foi amenizada pela presença de uma lembrança embutida na própria dor... Mais adiante, um grito que quase feriu meus tímpanos, soltado por uma menininha que brincava ("arengava?") com o irmão, me trouxe um punhado de lembranças arroxeadas de pancadas...
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Encontrei lembrança no aroma de pão quente que veio da padaria pela qual passei... e pendurada, em meio a uns utensílios de cozinha, em um "mercadinho" local... Parece que elas tomaram mesmo uma enorme queda da janela, se esfarelaram e foram espalhadas pelo bairro ao sabor do vento e da chuva, levadas nas patas dos cavalos que circulam por aqui, pelas asa e bicos dos pássaros que treinam suas asas e pousam nas nossas janelas...
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Uma dessas lembranças passou colada na roupinha de uma menina que caminhava de mãos dadas com a mãe, que lhe contava como havia sido sua (da mãe) infância... Uma outra estava em uma faixa usada por uma outra menina que brincava em um playground... uma faixa muito parecida com as "fitas gregas" que prenderam meus cabelos rebeldes em minha difícil puberdade...
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O engraçado é que, de repente, a rua parecia "ladrilhada" de pequenas partículas oriundas de minhas lembranças (à semelhança daquela rua ladrilhada "de pedrinhas de brilhantes para o meu bem passar"...) e bastava um olhar meu para que aquelas partículas ganhassem vida e mostrassem ser uma lembrança viva e inteira!
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Recolhi todas as lembranças que vi (o saquinho parece não ter fundo, ou elas são dotadas de uma incrível capacidade de compressão!). Sinto-me, novamente, repleta de lembranças que voltarei a despejar aqui... aos poucos, para evitar uma intoxicação (não alimentar, mas memorial!)...
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Hoje, encerro por aqui... com uma foto em que apareço com Felipe (no jardim de nossa casa, em Campina Grande, que absolutamente não tem registro em minha memória... É curioso como nossa memória, um "item de série e peça original de fábrica" requer alguns anos para ser inicializada e ter sua potencialidade disponível para uso!).
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A foto me prova que eu morei em Campina Grande (até nasci lá!) e que um dia já fui meio carequinha (preciso mostrar essa foto para minha cabelereira!) ;-) e, pelo menos para mim mesma, muito fofinha, ainda que um tanto careteirinha... ;-) Eu estava com um aninho e Felipe com três. O brinquedo que ele está segurando era um dos fabricados por nossa mãe artista... um "bubu", que devia ser dele e que eu devia querer para mim!
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