quarta-feira, 22 de julho de 2009

Viajando...

Hoje eu recebi um email de Erick... Acho que foi a primeira vez que ele mandou uma mensagem para mim... quer dizer, uma mensagem com notícias... Agora ele está em Praga e, apesar de já ter comprado o tal iPod que permite o acesso à internet, não conseguiu ainda usar o Skype.
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Eu fico pensando em como a gente cria necessidades a partir da tecnologia... Lá em casa, quando saíamos, mamãe aguardava pacientemente por uma cartinha (dos que estavam mais longe, como era o caso de Marcelo, quando mudou para São Paulo e de Carlos quando foi para Volta Redonda...), que algumas vezes demorava muito a chegar e outras não chegava de modo algum...
E também não tínhamos a mesma facilidade de uso de telefone... Quem estava longe, estava realmente bem mais longe do que podemos suportar hoje em dia!
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E assim, eu vou ficando com essa sensação de que o mundo está encolhendo... Não só está muito mais fácil a gente vencer grandes distâncias, como também está mais difícil a gente conseguir se afastar totalmente de um lugar...
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Quando, em 1980, eu fui á Europa de férias, de lá mandei à minha mãe alguns cartões postais. Na volta, ao invés de vir direto para casa, eu fui a João Pessoa "tomar a bênção" a mamãe (lá em casa, quando éramos pequenos, pedíamos bênção a papai e a mamãe ao acordar, ao sair de casa, ao deitar... "bença mãe/bença pai!" era saudação costumeira de todos nós) e pude eu mesma receber dois daqueles cartões que demoraram mais do que eu em seu percurso... ;-)
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Aliás, mamãe gostava muito de ver os filhos viajarem, já que ela mesma não o fazia...
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Uma coisa que eu devia ter feito, era convencido mamãe a viajar comigo... ela tinha muita vontade de conhecer lugares novos, mas dizia que para ela só "teria graça" se papai também fosse... e ele não iria... era muito acomodado em seu lugar e não pensava em viajar se não fosse para visitar algum filho... quando já morávamos fora de casa...
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Essa acomodação de meu pai é mais um aspecto da personalidade dele que me intriga... Alguém me contou que quando ele era jovem estudava italiano (deve ser essa a razão daquele exemplar de A Divina Comédia na sua estante...) e queria fazer uma viagem à Itália após sua formatura... bem, parece que ele resolveu trocar a viagem pelo casamento...
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Como ele contava que, para obter o consentimento (e, certamente, o financiamento) paterno para cursar uma faculdade, que obrigatoriamente teria de ser de Direito (quanto a isso, eu desconfio que a opção dele seria outra... talvez a Engenharia, como deixou de herança para muitos de nós, talvez a Medicina, que gostava de "praticar" conosco...), teve que passar um "estágio" na fazenda de vovô, quem sabe também não lhe foi imposta alguma condição para que casasse com aquela prima (também lembro de ter ouvido que mamãe não seria a prima escolhida por vovó Xixica para ser sua nora...)
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Voltando para a vontade que mamãe demonstrava ter de conhecer lugares distantes, em especial, ela queria muito conhecer Portugal... Na minha primeira noite em Lisboa eu lhe escrevi um detalhado relato de minhas primeiras impressões sobre aquela cidade que ela tanto sonhava visitar... Ela dizia que quando morresse (mamãe sempre fazia planos estranhos para depois da morte!) viajaria pelo mundo sentada na asa de um avião...
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Como era católica fervorosa, e como se sentia próxima de Nossa Senhora de Fátima, já que havia nascido na véspera do dia em que a santa apareceu pela última vez às crianças pastores e Fátima, ela queria, principalmente conhecer a gruta onde teria acontecido a aparição... Acho que ela não gostou muito do fato de eu não ter ido ao local... se bem que fui ao santuário de Lourdes e até lhe trouxe "água benta" de lá!
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Mamãe era mesmo muito religiosa, lembro que, quando morávamos na Pedro II, ela ia à Missa com todos os pequenos (inclusive eu), na igreja das Mercês. Eu gostava, porque depois a gente dava um passeio na Lagoa e ela nos comprava rolete de cana. Mas eu confesso que não entendia nada do que se passava na igreja... só sabia que em certos momentos em que tínhamos de ajoelhar (disso eu não gostava... sempre havia areia no lugar onde eu teria que me ajoelhar e aquilo doía muito... machucava meus joelhos e "nascia cabeça de prego"...
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Eu queria ajoelhar uma perna só, como os meninos, mas mamãe me obrigava a colocar os dois joelhos naquela madeira cheia de areia...), em outros era para ficarmos em pé... só podíamos sentar às vezes... E ainda tinha hora em que não podia olhar o que o padre estava fazendo... (mas eu sempre olhava e não entendia a proibição...)
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Naquela época, as mulheres assistiam à Missa com as cabeças cobertas por "mantilhas" de renda... eu achava bonitas as mantilhas de mamãe e de Maria Sônia. Mas a minha não era de renda... era um véu fininho (acho que era uma espécie de tule) orlada por uma rendinha sem graça... Eu não gostava nada, nada de ser menina... esperava ser mulher um dia!
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Enquanto eu sonhava em ser mulher, para usar mantinha de renda, saia godê e vestido de bolero; mamãe sonhava que eu seria freira... e Felipe seria padre! parece que antigamente quem tinha muito filho tinha que doar uns para a igreja...
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Bem... ainda na adolescência, aos 15 anos, eu resolvi que não frequentaria mais as missas (ficaria em casa com papai, que nunca ia, mas mandava que a gente fosse com mamãe...), foi na época em que também cansei do colégio de freiras (principais responsáveis pelo meu distanciamento daqueles rituais...) e, aos poucos, fui tomando em minhas próprias mãos (talvez inábeis, mas minhas!) as rédeas do meu destino...
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E aqui estou eu...
pronta para ir à Missa...
vestido daqueles espinhentos,
a caprichosa "flor"
que mamãe fazia com meus cabelos cacheados
e os laçarotes combinando com o vestido...
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Será que alguém
podia estar feliz
com esses laçarotes na cabeça?? ;-)

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